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Festivais

19o Tiradentes (2016) – dia 4

O índio em questão na Mostra de Tiradentes

Por Luiz Joaquim | 27.01.2016 (quarta-feira)

TIRADENTES (MG) – Dialogando com o homenageado Andrea Tonacci e seu filme “Serras da Desordem” na abertura dessa 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o programa competitivo do evento, o “Aurora”, iniciou na noite de segunda-feira com “Índios Zoró: Antes, Agora e Depois?”.

Demarcava-se como o terceiro longa-metragem dirigido pelo baiano Luiz Paulino do Santos, 83 anos, conhecido, entre outros créditos, como roteirista de “Barravento” (1962), o primeiro longa de Glauber Rocha (1939-1981).

A presença de Paulino, com sua longa barba branca e seus 60 anos de cinema na “Aurora” – espaço dedicado aos três primeiros longas de cineastas – gerou inclusive uma situação inusitada na apresentação do filme, quando o mestre de cerimônia anunciou o realizador como iniciante.

Assim como “Serras…”, “Índios Zoró” retoma um material de arquivo do próprio diretor – no caso o curta-metragem “Ikaténa: Vamos Caçar”, filmado em 1982 por Paulino na tribo central dos Zoró, em Ji-Paraná, Rondônia – e é partir dele que o longa-metragem se guia para reencontrar aqueles mesmo personagens e entender sua situação hoje.

Com Paulino guiando o documentário, ora com uma contextualizadora narração em off, ora aparecendo no quadro interagindo com seus personagens, “Índios Zoró” revela também o quanto mudou o personagens nos 34 anos que separam um filme do outro.

Enquanto “Ikaténa”, filmado em 16mm, oferecia uma construção formal mais clássica do documentário, com narradores traduzindo as ações dos índios, que por sua vez receberam orientações de Paulino para uma encenação para a câmera, em “Índios Zoró” nada é escondido, não há maquiagem nos gestos dos personagens, e Paulino é ele próprio um personagem daquele contexto.

Sua orientação mística – foi um dos fundadores do Santo Daime no Brasil – também leva o filme a um lugar para um desejo “transcendental” da ação, como falou a debatedora baiana Amaranta Cesar na manhã de ontem.

“Índios Zoró” tem produção da pernambucana Urânio Filmes e o longa de Paulino é um de quatro que compõem o projeto “Encanteria”, da produtora. Os outros são “Santo Daime: Império da Floresta”, de André Sampaio; “Terecô da Mata do Codó” e “Maracatu Sagrado”, ambos de Tiago Melo.

A noite de segunda-feira também viu um outro estreante em longa-metragem, desta vez no programa “Transições”. O carioca Bernardo Cancella Nabuco originalmente faria seu “Urutau” como um curta-metragem para a conclusão da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, mas entendeu que a chamada “dilatação do tempo” em seus longos planos ajudariam a dar mais credibilidade ao que queria contar.

De fato, todo o filme, em seus 70 minutos, é mostrado em 15 planos dos quais 13 são fixos. Com bastante economia, mostra um instante fatal dentro de sete anos de cativeiro pelo qual vive o adolescente Fernando (Nicolas Sambraz), sob o julgo do Josias (Gerson Delliano), que o trata como um objeto sexual num porão com uma cama, uma mesa, uma banheira, e uma tevê.

Bernardo revela-se aqui um competente administrador na condução formal em seu filme de estreia, ao mesmo tempo em que conta com atores bastante integrados a seus personagens. O filme estimulou discussões psicologizadas sobre opressão sexual e o que fazer com a liberdade quando ela finalmente chega a você.

CURTAS – No programa “Foco”, de curtas-metragens, a segunda-feira viu o novo filme do paraibano radicado em Caruaru, Taciano Valério. Em “Ainda me Sobra Eu”, Tarciano cria uma narrativa experimental contando com o protagonismo de Tavinho Teixeira (diretor de “Batguano”).

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