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Críticas

Steve Jobs

Retrato de um gênio imperfeito

Por Luiz Joaquim | 14.01.2016 (quinta-feira)

Os admiradores fiéis ao mago da Apple, Steve Jobs (1955-2011), devem lembrar do quão apática foi sua cinebiografia dirigida por Joshua Michael Stern lançada em agosto de 2013 com Ashton Kutcher como protagonista. E os leitores fiéis da coluna “Câmera Clara”, publicada semanalmente às segundas-feiras neste CinemaEscrito.com, devem lembrar que, um mês depois, naquele mesmo ano, o site destacou que estava a caminho um novo roteiro sobre Jobs a ser escrito por Aaron Sorkin, o mesmo de “A Rede Social” (2010), feita a partir de uma biografia autorizada pelo próprio Jobs.

O filme estreia hoje no Brasil com o nome “Steve Jobs” (EUA, 2015), tem direção de Danny Boyle, protagonismo do sempre impressionante Michael Fassbender (visto recentemente em “Macbeth”), e atende a todas as expectativas.

Ao contrário do que se espera do formato de cinebiografias tradicionais, o roteiro de Sorkin impressiona pela inteligência com a qual condensa as informações mais importantes da vida do criador do iPod a partir de situações inteiramente ocorridas nos bastidores do lançamento de quatro de seus produtos que, ou viriam a transformar o negócio digital no mundo inteiro, ou tornaria o próprio Jobs num exótico desacreditado no mercado da informática.

Desta forma, “Steve Jobs”, o filme, inicia em 1984, mas antes resgata uma imagem de arquivo na qual, em 1974, numa entrevista a BBC, Arthur C. Clark prevê como será o mundo no ano 2000, funcionando com algo que hoje conhecemos como Internet.

Dez anos depois, Jobs (Fassbender) está prestes a ter um colapso nervoso, pois minutos antes do lançamento mundial do aguardado computador Macintosh, a máquina de demonstração não emitia o som “hello!”.

Sem conseguir convencer sua diretora de marketing, Joanna (Kate Winslet, melhor atriz no Globo de Ouro), de que o “hello” era importante para mostrá-lo como uma máquina amigável, e assim mais fácil de vendê-la, Jobs já nos é apresentado como a intempestiva e incompreendida figura de quem tanto se comentava.

Nesse sentido, o filme de Boyle é de uma competência sedutora exatamente por nós deixar mais próximo do ser humano Jobs, com suas dúvidas e receios. Logo, ao mesmo tempo em que entendemos claramente as estratégias deste incrível líder e visionário, temos acesso também sua solidão, egoísmo e frieza, mesmo com aqueles que lhes são mais caros na vida: o amigo Wozniak (Seth Rogen) e a filha que não queria reconhecer, Lisa (Perla Haney-Jardine, aos 19 anos, Ripley Sobo, aos 9, e Makenzie Moss, aos 5).

A insistência da mãe de Lisa em fazer Jobs reconhecer a filha e a insistência de Woz em fazer Jobs reconhecer o quão vital foi a equipe que criou o “Apple II” – lançado em 1977 quando eles trabalhavam juntos –, dá a nós um Jobs não para idolatrar, mas para tentar entender.

E nesse exercício, com Boyle entregando seu filme numa embalagem de dinamismo plástico que lembra seu melhor e mais revelador filme – “Trainsppoting: Sem Limites”, 1996 -, ganhamos um retrato que talvez até o exigente Jobs aprovasse.

DANÇA DAS CADEIRAS – David Fincher seria o diretor do filme. Pediu US$ 10 milhões pelo trabalho e foi preterido por Danny Boyle. Para o protagonismo, pensaram em Leonardo DiCaprio, mas também cogitaram o nome de Christian Bale.

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