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Livro: Memórias de Cinema: Um Idioma Universal

O cinema que transformou cineastas e cinéfilos

Por Luiz Joaquim | 28.05.2016 (sábado)

Entre os lançamentos de livros na 39ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que segue até 04 de novembro na capital paulista, um dos destaques é “Memórias de Cinema: Um Idioma Universal” (Ed. Brasileira, 464 pags., R$ 35), que é o novo volume da coleção “Os Filmes da Minha Vida”, editado pelo festival. Já disponível para venda em qualquer livraria do País, a brochura traz uma coletânea de textos transcritos das várias edições do encontro que dá nome à coleção.

Criado pela Mostra de SP em 2008., o evento “Os Filmes da Minha Vida” é integrado à programação com o objetivo de divulgar filmes que exerceram alguma influência na vida das personalidades depoentes, vinculando-se mais ao aspecto emocional que técnico ou intelectual dos filmes. A cada ano, a mostra convida nomes de incontestavel importância para a cultura – entre escritores, jornalistas, fotógrafos, atores, cineastas, críticos de cinema e outros – para falar a uma plateia normalmente grande que disputa os ingressos gratuitos para o seminários no lounge da Mostra, na rua Augusta.

O resultado são depoimentos riquíssimo que refletem questões como os filmes que marcaram a vida dos convidados, perpassando por temas como direção, produção e indústria cinematográfica, o avanço do digital e do 3D, a forma como se percebe um filme numa sala de cinema, e a prática da crítica. Os livros contêm ainda a “filmografia citada”, com as fichas técnicas dos filmes mencionados nos textos.

Neste volume, temos a transcrição dos seminários dados por Artur Xexéo, Bráulio Mantonivani, Cássio Starling Carlos, Danilo Santos de Miranda, Helvécio Ratton, Ignácio de Loyola Brandão, José Carlos Avellar, Júlio Bressane, Lauro Escorel, Maria do Rosário Caetano, Matheus Nachtergaele, Murilo Salles, Tata Amaral, Walter Salles e Zuenir Ventura, além dos franceses Jean-Michel Frodon, Michel Ciment e do chinês Jia Zhangke.

Pela sua natureza, transcrições de debates com uma plateia, os textos são bastantes coloquiais (mas não rasos), o que torna a leitura bastante fácil e agradável. O formato também permite várias abordagens, uma vez que o convidado tem total abertura para conduzir seu discurso. Dessa forma, em “Notas de um espectador de cinema”, do crítico Avellar, temos um texto impecável sobre o prazer de sua vocação, assim como uma desconstrução brilhante de filmes clássicos que lhe marcaram, além de sua relação com Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Eduardo Coutinho.

Já o jornalista Zuenir Ventura, concentra-se na particular história da publicação do polêmico texto enviado por Glauber no exílio para publicar na revista “Visão” em 1974. Sabemos aqui os bastidores da decisão do jornalista em publicar ou não as linhas do cinemanovista quando elogiava os militares e vislumbrava uma abertura política. Loyola Brandão, por sua vez, resgata suas primeiras lembranças na infância, em Araraquara (SP), comparando-a com “Amarcord” (1973), de Fellini, além de como precisou esperar por 30 anos para conseguir assistir “Gilda” (1946).

No depoimento do diretor de “Central do Brasil”, descobrimos a importância de Walter Salles ter morado em Paris, na infância, para sua formação cinéfila, e de que forma diretores como Michelangelo Antonioni, Krzysztof Kieslowski e, entre outros, Luís Sérgio Person – com destaque para “São Paulo S/A” (1965) – foram significativos para Salles pensar o cinema que viria a fazer, com a questão da identidade e o nosso lugar no mundo acomodando-se em primeiro plano nas problemáticas que viria a propor em sua obra. Na capítulos de alguns depoentes é também possível encontrar perguntas feitas pela plateia aos palestrantes.

CURIOSIDADE – Walter Salles conta que na infância passava férias com a família numa cidade do interior de São Paulo, chamada Matão. Lá havia dois cinemas, o Cine Yara, que só passava westerns, e o cine Politiama, que só exibiu brasileiros e europeus. Os dois atores que lhe marcaram nessa época foram Mazarropi e Giuliano Gemma.

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