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Críticas

Esquadrão Suicida

Os sete condenados (pelo amor).

Por Luiz Joaquim | 04.08.2016 (quinta-feira)

Ainda que pertencendo a uma geração (e talvez por isso mesmo) que em 1983 rodava pelas ruas de bicicleta – não era bike, era bicicleta – com uma turma de poucos e fieis amigos, e que brigava pelo HQ #134 do X-men, ou seja, mesmo não sendo hoje um desconhecedor absoluto do que significa a excitação do universo dos super-heróis nos quadrinhos, não dá para levar muito a sério o novo capítulo da DC Comics que custou US$ 175 milhões e chega hoje (04/08) aos cinemas do Brasil.

A obra chama-se Esquadrão suicida (Suicide squad, EUA, 2016) e é dirigida por David Ayer.

E não vamos nem falar de fidelidade ou infidelidade da adaptação para o cinema. Começar uma avaliação assim já iniciaria fracassada. Falemos do que interessa a qualquer dramaturgia, quer dizer, da construção do conflito humano (pois tudo parte dele). É disso que trata, afinal, qualquer criação artística.

Os heróis, ou anti-heróis como queiram, deste Esquadrão… não são apresentados em seus conflitos íntimos. Ou melhor, até são. Mas de forma reduzida a mesma que seria um casal adolescente apaixonado.

Antes… a estrutura narrativa.

 

Ayer busca em Tarantino (sempre ele) a estratégia rápida para apresentar seus supervilões à platéia leiga. Ele a faz por meio de uma reunião entre a agente da segurança nacional, Waller (Viola Davis), que quer convencer seu superior a permiti-la reuni-los para que enfrentem uma ameaça sobre-humana.

Na reunião, Waller conta como os capturou e sua historinha vem entremeada por flashbacks da captura. Para a informação de cada uma dos sete bandidos, a imagem os congela numa pose qualquer e imprime ao lado seu mini-currículo de malvadezas.

São eles o Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie, de A Lenda de Tarzan), El Diablo (Jay Hernandez, o galã de Perfeita é a mãe!), Bumerangue (Jai Courtney), Katana (Tatsu Yamashiro), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), e Magia (Cara Delevingne)

Ainda dentro dos flashbacks, vemos participações de Batman (Ben Affleck, melhor do que tudo que fez em Batman VS Superman: a origem da justiça) e The Flash (Ezra Miller, de Precisamos falar sobre Kevin).

Nesse contexto, temos o Coringa, personagem que foi elevado a um outro patamar de complexidade humana pela atuação magnética de Heath Ledger (1979-2008) em Batman: o cavaleiro das trevas (2008). A qual fez desse Esquadrão suicida uma grande curiosidade por saber-se que a produção apresentaria o novo Coringa, desta vez na pele de Jared Leto.

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Leto, que já deu prova que é bom ator – oscarizado por Clube de compras Dallas (2013) –, tem poucas falas aqui (deve ganhar espaço absoluto na próxima sequência), e talvez por isso mesmo saia como um dos mais caricatos dos vilões.

Voltando para os conflitos dos personagens, é quase cômico que toda a forma de persuasão para obrigar os supervilões a lutarem pelos EUA seja através de ameaças do governo às pessoas que aqueles bandidos amam.

Tudo que Arlequina, a namorada extravagante e intempestiva do Coringa, quer é casar e ter dois lindos filhos loiros com seu Marilyn Mason, ôps, quero dizer, com seu Joker (tal “revelação” está lá, no filme).  A personagem, que tinha tudo para representar uma força do gênero sexual no filme, deverá decepcionar muitas(os) simpatizantes da causa.

A certa altura, Arlequina pergunta ao mercenário Pistoleiro se ele já amou alguém. A resposta é que ele não conseguiria dormir à noite depois de assassinar pessoas se se desse ao luxo do amor. Mas é pelo amor a sua filha de 11 anos que o bandido compra a briga do governo.

Já Bumerangue, Crocodilo, Magia (apaixonada pelo militar Flag, o ator Joe Kinnaman) e Katana (também impulsionada pelo amor à alma do marido aprisionado em sua espada), todos eles mal têm espaço para suas falas.

E destes, o único personagem minimamente interessante é El Diablo exatamente porque ele não quer se envolver com a confusão. E não por ser menos malvado que os outros, mas é o que gostaria uma vez que guardar uma história pessoal de redenção. Não é à toa que, acertadamente, este anti-heroi é “guardado” para agir no desfecho.

Ainda assim, El Diablo é movido pela memória do amor.

Sobre os efeitos especiais? Não há o que acrescentar de proveitoso alem do que já é dito e repetido a cada novo “superfilme”. Temos, enfim, mais do mesmo, talvez aqui um degrau acima de competência técnica, ambientada numa atmosfera sombria, contendo alguma personalidade coerente na estética dessa direção de arte.

E, concluindo: sendo da geração que andava de bicicleta atrás da edição #134 dos X-men, e tendo já visto um ou outro filme com anti-heróis realmente malvados, fica a sensação de que estes que foram convocados à força para lutar em Esquadrão suicida parecem apenas crianças excitadas perto de figuras como Wladislaw (Charles Bronson), Franco (John Cassavetes), Pinkley (Donald Sutherland), Jefferson (Jim Brown) e o medonho Maggott (Telly Savalas), entre outros, em Os 12 condenados, de Robert Aldrich.

E isto foi há 49 anos.

Desaprendemos? Ou involuímos?

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