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Festivais

40ª Mostra de SP (2016) – abertura

Mostra de SP apresenta sua 40ª edição e seu público deve agradecer. Leia entrevista com Renata de Almeida

Por Luiz Joaquim | 20.10.2016 (quinta-feira)

Nenhum cinéfilo, por mais vaidoso que seja em sua empertigada dedicação de ver (e conseguir ver) uma quantidade recorde de filmes numa edição de um evento gigantesco como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo jamais terá a mais ínfima idéia do que significa produzir um evento dessa magnitude.

Não falamos apenas em termos de empenho profissional e horas de trabalho técnico, específico, gastos para agregar num período de 14 dias o volume de 322 filmes de 50 países, espalhados em 42 locais da cidade de São Paulo, como apresenta esta 40ª edição da Mostra a iniciar hoje (20/10).

Isto sem contar num outro volume de encontros, debates, seminários que complementam a riqueza produzida pela Mostra durante os dias em que ela faz a capital paulista pulsar cinema, formando novos usuários e saudando os seus habitués

O que queremos falar é de um envolvimento para além do profissional. De um envolvimento amoroso, que não é possível de ser mensurado, e é imprescindível para que projetos como a Mostra de SP – ou qualquer outro projeto artístico que demande dedicação integral – possa ser realmente exitoso e duradouro.

No caso, Renata de Almeida, que passou a assumir a Mostra sozinha desde o falecimento em 2011 de seu companheiro – Leon Cakoff – fundador do evento em 1977 – encarna essa figura responsável pela Mostra, que sentiu o peso de uma natural cobrança sobre si quando se viu sem a figura do parceiro ao seu lado.

Ainda que viesse tocando a produção desde 1989 (ou seja, há 27 anos) ao lado de Cakoff, a cada novo ano o desafio com que Renata se depara são renovados e reforçados (leia entrevista abaixo). E neste volume 40 do grande encontro de cinema da cidade de São Paulo, Renata e sua equipe conseguem sim oferecer pérolas que qualquer cinéfilo do mundo teria de agradecer com bastante devoção.

 

Senão, vejamos alguns pontos marcantes:

O mestre italiano Marco Bellocchio é homenageado neste 2016 com 12 títulos em exibição. O diretor virá a São Paulo para uma masterclass (24/10), e participa da abertura do evento apresentando seu Belos sonhos.

William Friedkin também marca presença com uma masterclass e recebe homenagem com o ‘Prêmio Leon Cakoff’, além da exibição de sete de seus filmes, entre eles, O exorcista e Operação França.

A Mostra apresenta ao Brasil os dois primeiros episódios da série The Young pope, do celebrado italiano Paolo Sorrentino (de A grande beleza), com Jude Law, Diane Keaton, Silvio Orlando e Javier Cámara no elenco.

Entre alguns títulos inéditos,  a Mostra traz os novos de Abbas Kiarostami, Alejandro Jodorowsky, Bahman Gohbadi, Danis Tanovic, Döris Dorrie, Hirokazu Kore-Eda, Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, Jia Zhangke, Jim Jarmusch, João Botelho, Paul Verhoeven, Park Chan-wook, Paz Encina entre outros.

Obras já celebradas por outros festivais chegam ao Brasil pela 40ª Mostra como Alba, de Ana Cristina Barragan; Canção para um doloroso mistério, de Lav Diaz; Hedi, de Mohamed Ben Attia; Las plantas, Roberto Doveris; Lobo e ovelha, de Shahrbanoo Sadat, Mimosas, de Oliver Laxe; O dia mais feliz de Olii Maki, de Juho Kuosmanen; o polêmico e necessário O nascimento de um nação, de Nate Parker; Radio Dreams, de Babak Jalali; e A atração, de Agnieszka Smoczynska.

Há ainda o Foco Polônia’, com 17 filmes de Andrzej Wajda e o decálogo restaurada de Krzysztof Kieślowski; há o documentário 76 minutos e 15 segundos com Kiarostami, de Seifollah Samadia; há a exposição ‘Por trás da máscara’, celebrando os 50 anos de Persona, de Ingmar Bergman; há uma homenagem ao ator Antônio Pitanga; há o encerramento com a exibição ao ar livre de A general (1926), de Buster Keaton e Clyde Bruckman.

E há muito mais…

Acompanhe abaixo entrevista com Renata de Almeida

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Renata de Almeida apresenta a 40ª Mostra de SP (foto de Cláudio Pedroso)

Entrevista: Renata de Almeida

Num ano tão controverso do ponto de vista da política para o País a decisão por uma homenagem ao cinema de Marco Bellocchio e Andrzej Wajda parece mais que acertada. Essa escolha passou por esse aspecto?

Sim, foi uma opção de programação. Estamos vivendo um tempo intenso para a reflexão. Tem acontecido muitas coisas sérias no mundo, não apenas no Brasil. A dinâmica da Internet, do Facebook têm criado certezas absolutas. Hoje as pessoas têm respostas para tudo. No cinema você se cala por duas horas e tem de acompanhar uma opinião completa e só daí pensar a respeito. A Mostra [de SP] nunca foi partidária, mas sempre foi política. Sempre foi muito aberta ao diálogo. Isso é muito saudável. Escutar o outro é saudável. E o cinema do Bellocchio e do Wadja nos falam muito. No caso do Bellocchio é um dos grandes que ainda está na ativa.

Há um assunto que eu queria que você comentasse que diz respeito a formação de público feita pela Mostra. Já são 40 edições, ou seja, pelo menos quatro gerações de espectadores foram formados pela Mostra. Isso me parece um legado incrível. Tem conhecimento se isso já virou objeto de alguma pesquisa acadêmica?

Não que eu saiba. A gente sabe que a Mostra influenciou muita gente, mas só temos alguns registros concretos. O Fernando Meirelles, por exemplo, conta que foi formado pela Mostra. Já o Cao Hamburger, uma vez lhe perguntaram o que ele preferia, se o Festival Cannes ou a Mostra e ele respondeu que preferia nosso trabalho. Muitos cineastas têm bastante carinho pelo evento.

São 40 edições, e na cabeça de quem está de fora, o aporte de recursos financeiros para a produção de um evento do porte da Mostra de SP seria quase automático. Mas a gente sabe que não é assim. O que pode dizer sobre isso?

É. Não é automático. Neste ano temos o que comemorar, mas por um determinado momento eu não estava tranquila. Afinal essa é uma edição comemorativa, de 40 anos. Só quando alguns patrocínios se confirmaram conseguimos fazer um desenho interessante para esta edição. O ideal seria saber realmente já no início do ano com que orçamento iríamos trabalhar. A Mostra é “elástica”, ela pode esticar ou encolher, ok, mas essa edição, especialmente, queríamos fazer algo bacana. E considerando o que foram os dois últimos anos, acho que conseguimos bastante. Serão 322 filmes e a seleção comemorativa está forte.

Qual a grande alegria curatorial desta edição, em termos de conquista, para você?

Olha acho que retrospectiva do Wadja e do Bellocchio são vitórias. Muito triste que o Wadja faleceu [09/10]. Ele não viria à Mostra, tava velhinho, frágil, com 90 anos, mas ele ia fazer um vídeo [para a gente exibir]. Acho que a curadoria desta edição encontrou um equilíbrio para esse nosso tempo e também dialogando com a própria história da Mostra. Por exemplo, vamos exibir os dois primeiros episódios da série Young Pope, do Paolo Sorrentino e ele esteva aqui com a gente com L’uomo in piú em 2001, com seu primeiro longa. Também vamos passar o novo Elle, do [Paul] Verhoeven, e também seu O quarto homem, uma produção sua ainda feita na Holanda que já mostramos no passado. Estamos revisando também o Jim Jarmursch, com o Daunbailó que exibimos aqui em 1987. Enfim, não é uma grande retrospectiva, mas estamos mostrando um pouco do trabalho feita pela Mostra ao longo de sua história.

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