A Outra Face
John Woo e as peripécias da ultratecnologia na medicina do FBI
Por Luiz Joaquim | 12.08.1997 (terça-feira)
A imaginação humana é maravilhosa. E é incrível também o que podem fazer os produtores de Hollywood com o comando de um John Woo à frente de um filme. Na película é mostrada a história da perseguição incansável do agente da divisão de antiterrorismo do FBI, Sean Archer (John Travolta), pelo supervilão chamado Castor Troy (Nicolas Cage). O ódio do agente por Troy reside pelo fato do assassino ter sido o responsável pela morte do seu filho.
Quando, finalmente, Archer obtêm êxito capturando Troy, e pensa que tudo está acabado, descobre que existe uma bomba armada em algum lugar da América. Mas, Troy está em coma e a única pessoa que pode revelar esse local é irmão do bandido Pollux (Alessando Nivolla), condenado em uma prisão, é claro, de segurança máxima.
Como obter a informação? É simples (para o cirurgião plástico do FBI, é lógico). Archer vai vestir a rosto de Troy e infiltrar-se na prisão ganhando a confiança de Pollux.
BALLET – John Woo faz da violência uma dança. Percebe-se que todas as cenas são mais que estudadas e calculadas em todos os possíveis detalhes. As perseguições, por terra, ar e mar, parecem obedecer ao comando do maestro Woo como se entendessem de graciosidade e harmonia.
Já é sabida a competência do diretor para essas seqüências e é nesse filme em que ele cria mais uma cena antológica para a história do cinema.
Em meio a uma chuva de tiros, um garoto escuta no seu walkman, ‘Somewhere over the rainbow’ . O detalhe é que, em determinado momento, temos a visão, e a audição, do garoto para aquela cena toda. Nota-se, então, o poder de sedução da música que, nesse caso, torna a coreografia da violência bonita.
INVEROSIMILHANÇA – Para o que se propõe, distrair, divertir, entreter, A outra face é competente, mas fica a sensação no espectador de ludíbrio quando se vê as peripécias da ultratecnologia da medicina no FBI.
Não que seja impossível, da ciência não se pode duvidar, mas será preciso, por baixo, uns cinqüenta anos à frente para que eu possa trocar a minha face com a do Brad Pitt.
Não duvide. Quando vemos um filme que envolve coisas improváveis para medicina, significa que o germe da idéia para a execução daquela loucura já passou pela cabeça de alguém da área.
Em 1973, Wood Allen produziu, dirigiu e atuou em “O Dorminhoco”, em que ele era congelado, por engano, e acordava 200 anos depois. Naquele futuro, previsto por ele, as pessoas podiam ser clonadas. O grande Woody Allen, naquele época, só errou uma coisa: a data.
A solução para a vida de um tetraplégico já existe no filme ‘Medidas Extremas’, em que atuam o versátil Gene Hackman e o bonitão Hugh sexo-oral-com-prostitutas Grant. Portanto não se surpreenda se, em 20 anos, vermos no Jornal Nacional o primeiro paralítico andando.
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