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Críticas

Harry Potter e A Pedra Filosofal

Cinema ou marketing ?

Por Luiz Joaquim | 20.12.2001 (quinta-feira)

É deprimente ter de medir o sucesso de um filme pela número de dígitos referentes em sua bilheteria no fim de semana de estréia. Mas o mundo não é perfeito e é por essa cartilha que ele roda. Sendo assim, comecemos a coluna nessa semana falando do fenômeno Harry Potter e A Pedra Filosofal (Harry Potter and The Philosopher’s Stone, EUA, 2001) – que, a propósito, é a única estréia dessa semana (23.nov), no Recife. Por aqui, entra em, no mínimo em oito salas. No País inteiro, a película se espalha em mais de trezentos cinemas.

Quando estreou nos EUA, há uma semana, o longa arrebatou absurdamente US$ 90 milhões. Isso até o domingo. Três dias depois, o filme, adaptado do homônimo livro infanto-juvenil da escritora inglesa J. W. Rowling, teve sua caixa registradora acrescida com mais US$ 35 milhões. Ao meu ver, isso não é uma vitória do filme, e sim do marketing. Isso fica cristalino quando se sabe que:

Primeiro: o mundo sabe da febre literária que se formou entre os jovens a partir das aventuras do bruxinho Potter em páginas impressas. Foram 110 milhões de cópias vendidas no planeta. Logo, era também de se esperar uma campanha publicitária ostensiva para o filme em cima desse público literário em potencial. O trabalho de excitação e formação de expectativa sobre esse público foi tão grande que acabou por ‘contaminar’ mesmo aqueles que nem sabem o que é um ‘trouxa’. Resultado, esses últimos foram ao cinema saber o que é um ‘trouxa’. Ainda por cima, a produtora e distribuidora Warner, que de boba não tem nada, já havia negociado previamente uma dezena de milionários produtos relacionados ao longa. Ou seja, o filme já nasceu como um sucesso comercial. Mas o filme é um sucesso fílmico ?

O FILME – Não. O diretor Chris Columbus (Esqueceram de Mim) não fez um sucesso fílmico. Uma vez conferidas as longas 2 horas e 32 minutos de Harry Potter fica a sensação que estivemos diante de mais um caça-níqueis. A começar por Daniel Radcliffe, o garoto protagonista. Em uma entrevista concedida a David Letterman, Radcliff disse que não foi difícil fazer Potter. Bastava arregalar o olho e entreabrir a boca o tempo todo. E é exatamente essa a expressão que perdura no rosto do garoto constantemente. Independente se ele dá de cara com uma escada antiga ou com um gigante cachorro de três cabeças.

Efeitos especiais em excesso tiram a leveza que o filme poderia trazer. A tão falada cena do jogo de quadribol assemelha-se bastante um vídeo-game de alta-resolução. O problema é que aqui o espectador não interage, não interfere. Assim como foi a seqüência barulhenta de perseguição do último Guerra nas Estrelas – A Ameaça Fantasma. Harry Potter não amarra o encadeamento das ações. Columbus pode ter respeitado todas as ações do livro incluindo-as em seu filme, mas esqueceu de amarrá-las convincentemente. É difícil acreditar que as crianças, e principalmente os fãs de Potter, fiquem satisfeitos com o que chega hoje às telas.

OPÇÕES – No Cinema da Fundação Hedwig – Rock, Amor e Traição (Hedwig and The Angry Inch, EUA, 2001), ganha mais uma semana e mostra o que é um bom filme em todos os aspectos do audiovisual. Há também um clássico absoluto na Matinê da Fundação, apenas no domingo (25), às 16h15: chama-se Meu Tio (Mon Oncle, França, 1959). Desarmem-se de preconceito contra filmes antigos e deleitem-se com o humor refinado (coisa rara) de Jacques Tati (diretor e protagonista). Ele aqui é um solteirão, desocupado que adora levar o sobrinho para passear, enquanto a irmã e o cunhado procuram-lhe uma ocupação e uma companheira. O filme, além de fazer graça e congraçar a amizade, critica sutilmente a modernidade (tão desejada no início dos anos 60). Atenção para as brincadeiras que Tati faz com a casa modernosa do cunhado. Meu Tio ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e um prêmio especial no Festival de Cannes. Esse é imperdível. Depois, vale procurar nas locadoras As Férias do Sr. Hulot, realizado seis anos antes de Meu Tio, mas já apresentando um alto teor humano e delicado na condução da comédia. Marca registrada de Tati.

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