Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban
Bruxaria na medida certa
Por Luiz Joaquim | 06.02.2004 (sexta-feira)
Os que celebram hoje o sucesso de Gael Garcia Bernal, devem lembrar que sua performance de E Tua Mãe Também (Y Tu Mamá También, 2001) no mercado mundial catapultou a carreira do ator mexicano. O mesmo serviu para o diretor Alfonso Cuarón, que hoje assina o comando de Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and The Prisoner of Azkaban, Ing., 2004) terceiro episódio da saga do bruxinho preferido entre crianças e adolescentes de todas as idades. O filme de Cuarón estréia hoje no planeta inteiro.
Parece ser uma unanimidade entre os leitores da autora inglesa J. K. Rowling, a criadora de Potter, que esta é sua melhor história. Pode-se dizer, vendo a adaptação para o cinema, que a produtora Warner Bros marcou um golaço ao deixar o comando de O Prisioneiro de Azkaban sob os cuidados do cineasta mexicano. O episódio é, de longe, o melhor resultado alcançado na transposição do universo de Potter ao cinema. O exemplo é excelente para o público entender o quão determinante é a presença de um diretor de personalidade vigorosa para que o resultado de um projeto tenha êxito.
Chris Columbus, diretor dos anteriores A Pedra Filosofal (2001) e A Câmara Secreta (2002), foi burocrático quando, no primeiro, formatou o filme num cartão de apresentação dos personagens e deu, ao segundo, uma atmosfera anacronicamente infantilizada (na cinematografia contemporânea) ao universo de Potter. Não é porque as aventuras do bruxo se destinam aos jovens que sua versão em película deva de ser nivelada por baixo. E o diretor Cuarón foi talentoso o suficiente para evitar isso.
Ritmo: é a melhor palavra que define o resultado conseguido pelo mexicano em O Prisioneiro de Azkaban. Prova disso está logo nos primeiro 15 minutos da obra, que sugam a atenção do espectador para a velocidade dos acontecimentos na vida do protagonista. Cuarón consegue pular de uma seqüência a outra (da “trouxa” que incha para a corrida alucinada do ônibus fantasma, daí para o clímax no trem com a aproximação do Dementadores, e assim por diante) dando a cada uma das situações, uma carga de tensão maior que a anterior.
Essa carga pode ser radiografada pela discreta (mas notada) trilha incidental, pela direção de arte (sombria e madura), pela montagem ágil (sem o estilo esquizofrênico da MTV), e pela presença de uma sutil rebeldia, típica no início da adolescência, que Potter é acometido nessa nova trama. É desse último combustível que Cuarón se abastece para respingar bom humor por todo o filme.
Nesse epísódio, quando Potter (Daniel Radcliffe) volta a escola de bruxaria Hogwart, descobre que Sirius Black (Gary Oldman) é um assassino condenado recém-foragido da prisão de Azkaban. Pelos guardas-espectros – os Dementadores – que circulam pelo perímetro de Hogwart a procura de Black, Potter fica sabendo que o assassino está a sua procura por uma questão ligada ao seu passado. Mas Potter e seus amigos, Hermione (Emma Watson) e Rony (Ruppert Grint), ganham um novo aliado: o professor Lupin (David Thewlis, o pianista de Assédio, de Bertolucci).
Também no elenco estão: Michael Gabon (como o novo Prof. Dumbledore – papel defendido anteriormente por Richard Harris); Emma Thompson (como a professora de clarividência) e o sempre ótimo Timothy Spall, (de Tudo ou Nada, como Pedro Pettigrew).
Se o fã de Potter, ao vir a versão cinematográfica de O Prisioneiro de Azkaban, perceber a que o nome por trás da direção pode adiantar muito sobre o clima do filme, então fica fácil de imaginar como será o Harry Potter e O Cálice de Fogo – próximo volume da série, que já está sendo filmado e tem estréia marcada para 2005. A direção é de Mike Newell, o mesmo diretor que deu ao mundo Quatro Casamentos e Um Funeral. Por enquanto, Alfonso Cuarón fez de O Prisioneiro de Azkaban bom entretenimento para qualquer um. Mesmo para os não-convertidos no mundo criado por Rowling.
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