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Críticas

Batman Begins

De volta às origens

Por Luiz Joaquim | 15.06.2005 (quarta-feira)

Existem diversas preocupações de cunho mercadológico
quando se produz um filme sobre mitos de quadrinhos. A
adaptação “Batman Begins” (EUA, 2005) iniciando hoje,
não foge à regra. Uma das questões que martela a
cabeça dos produtores é: como levar aos cinemas o
espectador alheio a saga do herói criado por Bob Kane
(1915 -1998) em 1939 e popularizado pela DC Comics.
Outra preocupação dos realizadores está na tratamento
respeitoso que os fãs do Homem-Morcego esperam que se
dê na sua transposição para a telona.

Assim como o próprio Batman, que busca o tempo todo o
equilíbrio entre vingança e justiça, este novo filme
de Christopher Nolan (de “Amnésia” e “Insônia”) parece
alcançar o balanço adequado entre as duas
problemáticas do parágrafo anterior. Quando “Batman
Begins” compõe belas imagens “forradas” pela atmosfera
soturna tais quais seu criador as concebeu, o fã sai
ganhando. Quando oferece um personagem pertubado pela
perda dos pais e num conflito pessoal de identidade,
ganha qualquer público que admire o cinemão com boas
pitadas de conflito humano.

Vale ressaltar que “Batman Begins” tinha, além dessa
responsabilidade, o peso de sair da lama de fracasso
onde o herói foi jogado por “Batman & Robin”, em 1997,
quando apareceu pela última vez, na pele de George
Clooney. Antes de Clooney, vestiu o bat-uniforme Val
Kilmer, em “Batman Eternamente” (1995), e o careteiro
Michael Keaton em “Batman” (1989) e “Batman: O
Retorno”(1992).

Nos dois primeiros filmes, os fãs ficaram enfurecidos
com a escolha de Keaton não só pelo seu frágil biotipo
como também pela suas limitações interpretativas.
Keaton foi convidado ali pelo diretor Tim Burton
graças ao sucesso anterior “Os Fantasmas se Divertem”
(1988). Em compesação, Burton deu à sua produção o
mesmo aspécto soturno que habitou os traços do
quadrinista Frank Miller nos anos 1980. Quando Joel
Schumacher retomou o herói-morcego em 1995, a fúria
dos fãs era direcionada ao destaque que o diretor deu
à aspectos (homo)sexuais do herói, com direito a close
nos gluteus e mamilos definidos pelo novo uniforme.

Em 1997, as estrelas eram os vilões e não o Morcego.
Estavam lá Schwarzenegger (Sr. Freeze) e Uma Thurman
(Hera-Venenosa), Sem falar que Batman dividia cena
com Robin (Chris O’Donnel) e Batgirl (Alicia
Silverstone). Sobrava pouco espaço para a
personalidade tão interessante do protagonista aflorar
no roteiro. Na versão 2005, a concentração nos motivos
humanos que levam o desorientado Bruce Wayne
(Christian Bale) a se transformar no Cavaleiro das
Trevas dão respaldo dramaticamente universais ao
trabalho de Nolan.

Cercando o ator Bale (anteriormente respeitado pelo
seu papel em “O Operário”), um time de craques reforça
a qualidade do que se interpreta em “Batman Begins”.
Estão lá Michael Cane, como o fiel mordomo Alfred;
Morgan Freeman, como o inventor Lucius Fox; Gary
Oldman, como o incorruptível tenente Gordon; Tom
Wilkison como Falcone, chefão do crime em Gotham; Liam
Neeson, como o treinador do desorientaedo Bruce; e Ken
Watanabe (de “O Último Samurai”) como o lider oriental
Ra’s al Ghul. O papel da mocinha ficou com Katie
Holmes, da telesérie “Dawson’s Creek”.

Aliado a isso, “Batman Begins” é um competente
entretenimento dentro dos moldes que Hollywood pode
produzir. Enquanto Bale, caracterizado com Batman,
fala em tom gultural, acompanhamos perseguições e
explosões espetaculosas ao mesmo tempo em que somos
apresentados ao batmóvel, concebido coerentemente como
um tanque de guerra, e a batcaverna, em suas primeira
arquitetura.

Já Gotham City aparece aqui como uma espécie de Nova
York, mas com o desgovernado conglomerado
arquitetônico de São Paulo. Sabe-se que a pesquisa
para a composição visual da cidade mesclou o subúrbio
de Los Angeles com as ruas de Tóquio e as favelas de
Kowloon, na China. Brasileiros, na realidade, podem
identificar ali as favelas cariocas, sem os morros por
trás. A produção também resolveu levar toda a equipe
para filmar na Islândia e em Londres. Desejava-se
locações realistas, e não digitais, para ilustrar o
treinamento do Brune Wayne pelos ninjas da Liga das
Sombras antes de tornar-se o Homem Morcego.

Os fãs de Batman sem ligação com os quadrinhos, mas
balizados pela série de 1966 criada pela rede
norte-americana ABC (e veiculada no Brasil nos anos
1970), vão encontrar um personagem completamente
oposto daquele da psicodelica tele-série que abusava
de onomatopéias, cheias de “POW!” e “KABUM!”,
ilustrando as sequências de lutas. Foi ali que o
Homem-Morcego, sempre ao lado do garoto prodígio,
ganhou fama pela sua sexualidade duvidosa. A fama
ficou tão arraigada que, até hoje, quando personagens
em qualquer peça da Broadway ganha o nome de “Bruce”
sabe-se que ele será gay.

Para felicidade de Bob Kane este novo Cavaleiro das
Trevas, por Christan Bale, desfaz essa imagem e retoma
a original, como a figura de um playboy fúltil pela
manhã, mas um mito assustador e controverso à noite,
vagando pelos becos sujos e escuros de uma deprimente
Gotham City. Informações contam que o roteirista
David Goyer já pensa em duas novas sequências. Na
primeira, Batman quer levar o Coringa a julgamento. Na
segunda, o Coringa deforma o rosto de Harvey Dent,
transformando-o no vilão “Duas-Caras”. E esperar para
ver.

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