Gramado (RS) – Enquanto o telespectador da Rede Globo
assistia na noite de sábado passado ao filme “Gaijin,
Caminhos da Liberdade”, lançado por Tizuka Yamazaki em
1980, a mesma diretora recebia na Serra Gaúcha os
Kikitos (troféu do Festival de Gramado) de melhor
filme, direção, atriz coadjuvante (para Aya Ono,
aplaudida de pé) e música (de Egberto Gismonti) para
“Gaijin, Ama-me como Sou” (ou “Gaijin 2”, como tem
sido chamado). Esta seqüência, que custou R$ 10
milhões e oito anos da diretora, concorreu com mais
outros cinco longas de ficção.

Seu maior concorrente foi “Cafundó”, saga sobre o
mítico Preto Velho João de Camargo. Recebendo dois
prêmios técnicos (fotografia e direção de arte), um
prêmio especial do júri e o Kikito de melhor ator
(Lázaro Ramos, que ainda levou R$ 30 mil oferecidos
pelo patrocinador Coca-Cola), o produtor de “Cafundó”
fez o discursos mais audacioso da noite. Em tom de
desabafo, ele lembrou da humilhação causada por certos
diretores de marketing empresarial quando tentava
levantar recursos para o filme de estréia na direção
de Paulo Betti e Clóvis Bueno. “Escutei gente dizendo:
por que vou dar dinheiro para um petista porra-louca
dirigir um filme sobre um preto velho?”, revelou o
produtor.

O prêmio de melhor atriz foi com justiça para
Priscilla Rozenbaum por “Carreiras”. Dirigida pelo seu
marido Domingos Oliveira, Priscilla carrega o filme
nas costas, como num monólogo teatral. “Foi uma semana
de muita pressão, todos diziam que eu ia ganhar e
tinha certeza que não ia vencer”, comentou no palco.

Para o júri oficial, o melhor roteiro de ficção era o
do catarinense “Diário de Um Novo Mundo”, de Paulo
Nascimento, que também foi agraciado com o prêmio do
júri popular, R$ 20 mil e um troféu concedido pelo
exibidor Cinemark. Os dois longas gaúchos na
competição ficaram com os Kikitos de montagem (“Sal de
Prata”, de Carlos Gerbase) e ator coadjuvante (Miguel
Ramos, por “O Cerro do Jaráu”, de Beto Souza).

Entre os documentários, o vencedor foi “Soy Cuba, O
Mamute Siberiano”, de Vicente Ferraz que chamou a
atenção para os distribuidores brasileiros para
observar os documentários nacionais. “O nosso filme
tem sido disputador pelas distribuidoras estrangeiras,
já no Brasil…”. Mara Mourão, diretora de “Doutores
da Alegria” (que recebeu prêmio do júri popular e
dividiu prêmio especial do júri com “Do Luto a Luta”,
de Evaldo Mocarzel) também deixou um recado.

Com nariz de palhaço, em referência aos seus
personagens, ela disse: “Espero um dia fazer um filme
com os gêneros ‘documentário e ficção’ tão
entrelaçados que ninguém saiba defini-lo. Digo isso
porque o documentário também merecia Kikitos para
categorias como montagem e trilha sonora, entre
outros”. Se não houvesse distinção, como Mourão
gostaria, certamente o prêmio da trilha iria para
Arrigo Barnabé, artista responsável pela adequada
música que se ouve em “Doutores da Alegria”, que tem
estréia nacional programada para setembro.

Sete longas latinos concorreram e foram julgados
separadamente. Os Kikitos de melhor filme e direção
escolhidos foram para “Um Mundo Menos Pior”, do
argentino Alejandro Agresti (o mesmo de “Valentin”),
que aqui leva o espectador junto com uma mulher e sua
filha adulta (Julieta Cardinali, eleita melhor atriz)
em busca do marido que nunca soube de sua existência.
O filme tem distribuição no Brasil pela Buena Vista
International. O Kikito de ator ficou com Roque Valero
(pelo venezuelano “Punto Y Raia”, vencedor também do
prêmio da crítica). O mexicano “Um Dia Sem Mexicanos”
(já em cartaz no Sudeste), de Sérgio Arau, levou com o
prêmio especial do júri.

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LISTA DE PREMIADOS
33º Festival de Gramado
LONGA METRAGEM BRASILEIRO Ficção

Filme: Gaijin – Ama me Como Sou, de Tizuka Yamasaki
Diretor: Tizuka Yamasaki por Gaijin – Ama me Como Sou
Ator: Lázaro Ramos por Cafundó
Atriz: Priscila Rozenbaum por Carreiras
Ator Coadjuvante: Miguel Ramos por O Cerro do Jarau
Atriz Coadjuvante: Aya Ono por Gaijin – Ama me Como Sou
Roteiro: Pedro Zimmermann por Diário de Um Novo Mundo
Montagem: Giba Assis Brasil por Sal de Prata
Fotografia: José Roberto Eliezer por Cafundó
Música: Egberto Gismonti por Gaijin – Ame me Como Sou
Direção de Arte: Vera Hamburger por Cafundó
Prêmio Especial do Júri: Cafundó de Paulo Betti e Clovis Bueno
Prêmio do Júri Popular: Diário de Um Novo Mundo de Paulo Nascimento

LONGA BRASILEIRO Documentário

Filme: Soy Cuba, O Mamute Siberiano de Vicente Ferraz
Prêmio Especial do Júri: Doutores da Alegria de Mara Mourão e Do Luto a
Luta, de Evaldo Mocarzel
Prêmio da Critica: Soy Cuba – o Mamute Siberiano de Vicente Ferraz
Prêmio do Júri Popular: Doutores da Alegria, de Mara Mourão

LONGA LATINO

Filme: Um Mundo Menos Pior, de Alejandro Agresti
Diretor: Alejandro Agresti por Um Mundo Menos Pior
Ator: Roque Valero por Punto y Raya
Atriz: Julieta Cardinali por Um Mundo Menos Pior
Prêmio Especial do Júri: Um Dia Sem Mexicanos, de Sergio Arau
Prêmio da Crítica: Punto y Raya, de Elia Schneider

CURTA METRAGEM BRASILEIRO em 35mm

Filme: Entre Paredes, de Eric Laurence
Diretor: Eric Laurence, Entre Paredes
Ator: André Gonçalves, por Eu te darei o Céu
Atriz: Nany di Lima, por Eu te darei o Céu
Roteiro: Nanna de Castro, por Eu te darei o Céu
Montagem: Eric Laurence, por Entre Paredes
Fotografia: Rodrigo Monte, por Desejo
Música: Nana Vasconcelos, por Entre Paredes
Direção de Arte: Naíra Coelho, por Os Olhos do Pianista
Prêmio Especial do Juri: Visita Íntima, de Joana Nin
Prêmio da Crítica: Entre Paredes, de Eric Laurence
Prêmio do Júri Popular: Eu te Darei o Céu, de Afonso Poyart