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Entrevistas

Sérgio Machado, Lazaro Ramos (Cidade Baixa)

Machado: De perto, somos todos iguais

Por Luiz Joaquim | 29.10.2005 (sábado)

– originalmente publicado em 29 de out. de 2005 no jornal Folha de Pernambuco

Com o título de “Lower City”, o filme “Cidade Baixa” (Brasil, 2005), de Sérgio Machado, foi exibido às 21h (horário londrino) de ontem (28-10-05) na mostra competitiva do 49ø Festival de Filmes de Londres. Na próxima sexta-feira, o debut em longa-metragem de ficção deste diretor baiano entra em cartaz no Brasil, com cerca de 25 cópias. O brasileiros poderão conhecer então o filme que chamou atenção na mostra Un Certan Regard no último festival de Cannes (junto a “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes) e vem se destacando entre a crítica especializada, junto ao filme de Gomes e “Rifa-me”, de Karin Ainouz (em pós-produção), por apresentar uma “personalidade” brasileira pouco vista no cinema nacional pós-retomada.

Terça-feira passada, antes de partir para a Inglaterra, Machado e o ator Lázaro Ramos (que protagoniza “Cidade Baixa ” com Wagner Moura e Alice Braga) aterrissaram no Recife para divulgar a produção. Com três personagens obsessivamente bem desenhados pelo também roteirista Machado (em parceria com Ainouz), o filme conta a história de dois amigos que fazem biscates para sobreviver até que conhecem a stripper Karinna e se apaixonam por ela. O inesperado sentimento coloca a amizade dos dois em xeque numa simbiose entre ódio e amor mútuo entre os três.

Na entrevista coletiva, a primeira pergunta tentava desvendar o porquê do título do filme consagrar o lugar e não os personagens, uma vez que paisagem humana, segundo o próprio Machado, é mais importante aqui que a paisagem geográfica: “80% da história se passa no perímetro da região metropolitana de Salvador e, comumente, muito do que acontece de interessante é colocado debaixo do tapete. “Cidade Baixa” tem uma certa inspiração dostoiewiskiana, como em “Notas do Subterrâneo”. Uma momento importante na confecção do roteiro aconteceu quando eu e o Karin paramos, após seis meses incessantes escrevendo, e pensamos o que queríamos dizer com o filme”, confessa Machado.

E continua: “foi quase como uma psicanálise. A gente fazia o papel do advogado do diabo com nós mesmos e ficávamos perguntando porque fazer esse filme. Foi aí que entendi o que queria dizer através do cinema. E o que quero dizer é que quando você vê alguém do outro lado da rua – pode ser uma puta, um travesti, ou a Rainha da Inglaterra -, você tem como primeiro impressão uma estranheza daquela pessoa. Mas quando se aproxima, você percebe que aquela pessoa tem tudo de essencial e comum ao que você tem”, explica. Quando fala dessa constatação, Machado cita “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho. “Vi ali o que queria dizer nos meus filmes. Na realidade é apenas um grande desejo de conhecer o outro”.

Essa proximidade sentimental com seus personagens transparece em sua maior referência visual (a fotografia de Mário Cravo) e na forma de enquadrar os atores em cena, que fizeram um laboratório com a consagrada Fátima Toledo, profissional que treinou atores para “Pixote” (1980), “Central do Brasil” (1998) e “Cidade de Deus” (2002) entre outros trabalhos importantes para o cinema brasileiro.

Lázaro Ramos lembra que a sugestão de convidar Toledo foi dele. “Logo no primeiro dia, pensei que ela ia
fazer uma espécie de terapia comigo, e já não gostei quando pediu para eu falar de mim, porque às vezes isso é doloroso e me considero uma pessoa ainda em formação. Depois entendi que seu processo, que chamamos de `valsa`, serviu para reeducar o olhar. O rocesso consistia em dançar com o elenco numa relação amorosa e, ao fim da música, tínhamos que nos agredir”. Para Lázaro, que também acredita nas técnicas mais tradicionais de atuação, o condicionamento de Fátima Toledo foi determinante para se chegar próximo do real na busca pela emoções mais íntimas como ódio, amor e tesão. E acreditam, tudo está na tela de “Cidade Baixa

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