Meu Amor de Verão
Paixão irresponsável
Por Luiz Joaquim | 29.08.2006 (terça-feira)
A expressão “sexo frágil” designada às mulheres
deveria ser revista. Em “Meu Amor de Verão” (My Summer
of Love, Ing., 2005), em cartaz no Cineteatro Apolo, a
personagem de Emily Blunt (Tamsin) protagoniza um
seqüência que humilha Phil (Paddy Considini), irmão
mais velho de Mona (Natalie Press), ao mesmo tempo em
que vive um romance de verão com Mona. Esta, por sua
vez, também humilha um ex-amante, quando, numa
performance, brinca a respeito da truculenta
performance sexual do antigo companheiro. Mas o ótimo
“Meu Amor de Verão” não é um filme sobre a supremacia
do sexo feminino, e sim sobre o descuidado com os mais
frágeis. Aqueles movidos pela paixão, sejam homens ou
mulheres
Dirigido por Pawel Pawlikowski, o filme é competente
não só por suscitar esse plano de sensação, mas pela
maneira como o faz. Neste processo, temos Mona – uma
adolescente pobre e órfã, que vive com o irmão Phil
sobre aquilo que costumava ser um Pub antes do irmão
tornar-se um protestante fervoroso -; e Tamsin – uma
adolescente rica que passa a maior parte do tempo
sozinha num mansão de veraneio. Enquanto a mãe viaja,
e o pai passa as tardes com uma amante, Tamsin,
cavalga, lê Nietzsche, lamenta a morte por anorexia da
irmã caçula e escuta Edith Piaf sonhando ter uma vida
marcante como a da diva francesa.
O contraste entre as duas fica já delineado quando
Tamsin pergunta a Mona o que ela espera do futuro:
“Casar, ter um monte de filhos com problemas mentais e
esperar pela menopausa”, responde com ar tragicômico.
“Meu Amor de Verão” segue inteiro sob essa atmosfera.
Ambientando num verde cenário paradisíaco, as duas
amigas logo passam para um estágio mais íntimo de
ligação, no qual nada mais fora dessa relação importa
ou merece respeito.
Simultâneo a esse virulento amor de verão, Pawel
mostra a determinação espiritual de Phil, obstinado em
salvar com orações toda a comunidade e a irmã do
“mal”. Esse embate entre a paixão espiritual de Phil e
a insaciável ligação amorosa entre as meninas acaba
por gerar o melhor do filme. O final, com uma
reviravolta de emoções, traduz com competência que
brincar com a paixão dos outros é perigoso; e que o
maltrato, levando à dor espiritual, pode ser traduzido
por maltratos físicos. E isso pode ser fatal.
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