Para não perder o som e a imagem
Prédio do Mispe está aquem do acondicionamento ideal
Por Luiz Joaquim | 26.09.2006 (terça-feira)
Logo ali, em um dos casarios históricos que embelezam a rua da Aurora (a de número 379), reside um gigante acervo cultural de valor inestimável e disponível gratuitamente para qualquer usuário que tenha interesse em utilizá-lo. Trata-se dos 193 filmes em película e 603 em VHS, das 869 fotos, dos 269 slides, dos 1.615 cartazes, dos 2.918 discos em vinil, das 272 fitas de áudio em rolo e 414 em formato cassete, das 2.269 memórias musicais e partituras, e dos 845 livros, além de cartões postais e revistas, que formam o acervo do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe).
Dividido entre o 2° e 3° andar do antigo prédio, a infra-estrutura do museu está aquém do acondicionamento ideal de preservação para tão rico acervo, mas Geraldo Pinho, desde 2003 a frente da coordenação do espaço, afirma que mesmo assim não há nenhum agente degradante agindo sobre o material que não seja o da variação de temperatura ambiente.
“É claro que seria perfeito se nosso acervo estivesse guardado sob temperatura controlada, com regulagem adequada de umidade, diferenciada para papel e para película como deve ser. Mas, ainda assim, desde que assumi, não testemunhei nenhum dano causado às nossas peças”, explica, e continua, convidando qualquer um a visitar o museu para conferir e desfrutar do acervo.
Geraldo salienta que o trabalho ali é silencioso e não bradante. “Não seria o caso de, para promover nosso trabalho, agendar projeções de nossos títulos antigos, pois se sabe que a cada projeção eles se degradam. É o caso, sim, de atender a uma demanda controlada de pesquisadores, como já acontece normalmente”, afirma.
No caso do trabalho “silencioso”, Geraldo destaca sua equipe que, apesar de pequena, se empenha com competência em função do afeto pelo ofício. “Hoje temos 90% de todo o acervo do Mispe digitado e, até novembro, poderá ser conhecido pelo acesso online no site da Fundarpe (www.cultura.pe.gov.br). Cerca de 10% das partituras (mais de 200 unidades) também já foram digitalizadas para preservar o documento original, e várias entrevistas contidas nas fitas de áudio em rolo foram transpostas, em sua integridade, para o formato CD, dando aí no mínimo mais uma década de vida ao conteúdo, até que chegue outra nova mídia”, conta o coordenador.
ACERVO Sobre o acervo das fitas em rolo, Geraldo ressalta, entre outras, as entrevistas com Alberto Cavalcanti, Capiba, Cícero Dias, Gilberto Freire, João Cabral de Melo Neto, Luiz Gonzaga, Lula Cardoso Ayres e Nelson Ferreira. “Foi com uma dessas entrevistas que a cineasta Sandra Ribeiro fez em 1999 o curta-metragem ‘O Teatro e A Música de Valdemar de Oliveira'”, relembra.
Um dos matérias mais procurados no museu é o acervo de partituras. “No início do ano, são muitos os músicos do interior e exterior que vêm aqui pesquisar sobre antigas modinhas de carnaval”, conta Geraldo.
Do acervo cinematográfico de 35mm, 16mm e 8 mm, o coordenador destaca as seis cópias únicas, em 16mm, da extinta produtora ‘Cinema Um’, fundada por Cristina Tavares, Carlos Garcia e Francisco Bandeira de Melo (Bandeirinha) nos anos 1960. “São títulos como ‘Ferias em Garanhuns’, ou ‘Chofer, A Maravilha’ que retratam uma período do qual temos pouca referencia visual de nossos municípios do interior”.
Há pouco tempo, o Mispe recebeu pequenas reportagens da TV Universitária (e não só isso) – captadas em 16mm nos anos 1970 – enriquecendo ainda mais seu acervo. Sobre o conteúdo desse material (ainda será catalogado), durante a entrevista a reportagem pôde observar na mesa de Geraldo Pinho uma cópia de “Inauguração do departamento de assistência jurídica do Estado”, ao lado do documentário “Ecologia”, de Leon Hirszerman.
A intenção do coordenador é de também transferir esse material para um formato digital. “Mas é um trabalho demorado e caro. Antes é preciso que as cópias sejam ‘lavadas’ para daí pô-las em outro suporte, como já fizemos com ‘Filme de Percussão Mercado Adentro’, de Fernando Monteiro”, argumentava Geraldo mostrando a pequena fita digital.
Das fotografias, ele ressalta as que registraram a passagem do Zeppelin pelo Recife nos anos 1930 e, da biblioteca, uma coleção completa da revista “Cinemin” (sucesso nos anos 70 e 80) além de livros de Jean-Luc Gordard e a “História Ilustrada do Cinema Brasileiro”. “Mas nosso acervo não é só de livros de cinema”, avisa o coordenador. Já na discoteca, é possível encontrar peças de vinil dos anos 1940 até os 1990.
Uma das novidades recentes do Museu, da qual Geraldo conta com entusiasmo, foi a criação da “Sala Firmo Neto”, expondo históricos equipamentos de captação de imagem e som desse pioneiro do cinema no Recife. Com a homenagem, o Mispe ajuda a manter viva a memória deste que foi o montador, fotógrafo e sonorizador do primeiro filme sonoro de Pernambuco (“O Coelho Sai”, de 1942). Geraldo adianta que existe ainda a idéia de, para breve, uma exposição deste acervo.
SERVIÇO Museu da Imagem e do Som de Pernambuco – Mispe Rua Aurora, 379 Horário de atendimento: seg. a sex., das 9h às 13h30 Fone 3221.4990, 3231.2716 www.cultura.pe.gov.br
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Instituição tem planos para reabrir o Cine Arraial
Apesar do trabalho silencioso do coordenador do Mispe, Geraldo Pinho, a instituição continua a chamar a atenção da mídia quando promove cursos e mostras itinerantes de cinema como a que acontece na próxima semana (de 2 a 8 de outubro) em Fernando de Noronha. É a segunda edição da Mostra de Cinema Brasileiro em Fernando de Noronha. Em 2004, quando projetou pela primeira vez no arquipélago, o projeto levou 10 títulos comemorando os 450 anos do local.
Nesta nova edição, sete filmes em 35 mm serão exibidos numa tela de 12 x 5 metros, ao ar livre, no Terminal Turístico do Cachorro, com a intenção de difundir e formar platéia para o cinema brasileiro. Entre os destaques da programação estão “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes, “Bendito Fruto”, de Sérgio Goldenberg, e “Durval Discos”, de Anna Muylaerte.
Também movimentando o Mispe, estará, em outubro, um curso de cinema ministrado pela cineasta Maria Pessoa. Geraldo Pinho ressalta ainda seu interesse em reabrir o Cineteatro Arraial que, até 2003, exibiu uma mostra de filme espanhóis. “Fizemos um projeto de modernização do equipamento da sala, que gira em torno de 120 mil Reais. Temos de rever a elétrica, o equipamento de som, retificadores, a tela, as lentes, que custam muito caro”. Aos que reclamam do não funcionamento da sala, ele diz: “Entre colocar o cinema para funcionar de forma deficitária e esperar por recursos para recuperar o espaço oferecendo uma estrutura decente à população, fico com a segunda opção”, encerra Geraldo.
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