11º Cine-PE – Cão sem Dono
Cão sem Dono mostra sua supremacia
Por Luiz Joaquim | 30.04.2007 (segunda-feira)
Com o longa-metragem de Beto Brant e Renato Ciasca,
“Cão sem Dono”, o 11° Cine-PE: Festival do Audiovisual
encerrou sua mostra competitiva na noite de sábado. A
abissal distancia na dramaturgia, na encenação e
direção de atores deste longa para os outros mostrados
nesta edição do evento, acenavam para o filme como o
grande vitorioso da mostra.
A partir do livro, “Até o Dia em que o Cão Morreu”, de
Daniel Galera, Brant e Ciasca nos levam até Porto
Alegre e apresentam Ciro (o ótimo ator gaúcho Júlio
Andrade), que, com vinte e poucos anos, recém-formado
em Letras, sem emprego e sem dinheiro, mora num
apartamento decorado com um colchão, duas mesas e
alguns livros. Ciro divide esse apartamento com um
cachorro vira-lata e gosta dos quadros pintadas pelo
porteiro de seu edifício (o não-ator e artista
plástico amador Luís Carlos Coelho).
Ciro não possui nada, mas tem a luz e o amor de
Marcela (a iniciante Tainá Muller), uma modelo em
ascendente carreira que funciona como alimento para
lhe manter de pé em sua massacrante falta de
perspectiva na vida. Brant e Ciasca mostram aqui o
acender e o apagar dessa luz chamada Marcela e como
isso interfere na apática vida de protagonista.
Essa melancólica paisagem humana filmada com maestria
pelos diretores (paulistas) e a produtora “Clube do
Silêncio”, do Rio Grande do Sul, fez o crítico gaúcho
Marcus Mello dizer que “Cão Sem Dono” é o filme que
melhor retrata aquela geração gaúcha. Uma dica
explícita disso é dita no próprio filme quando alguém
da família de Ciro brinca dizendo que hoje a
adolescência vai até os 32 anos.
Na realidade, Brant e Ciasca nos deram, com Ciro, o
retrato de uma geração de novos adultos, independente
da região, que ainda não compreende qual o eixo que
deve girar a vida, e nem tem forças para descobri-lo.
As razões da apatia não cabem no filme, são diversas
afinal, mas, mesmo assim, “Cão sem Dono” ainda dá
espaço para uma linda e triste história de amor como
outra qualquer, só que registrada pelas lentes de Toca
Seabra com uma intimidade perturbadora, entrega
absoluta do elenco e, por isso inesquecível.
A certa altura, almoçando com a família, Ciro diz que
não é dono de seu cachorro, é amigo dele. Depois, como
um próprio cão sem dono, e sem sua Marcela, o
vira-lata Ciro pára de buscar sentido e sucumbe à
escuridão (literalmente representada na tela) que é
deixada pela ausência da jovem modelo e pelo o
desalente no seu mundo. Perturbador.
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