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Críticas

Caixa Doi$

A busca pela ética que diverte

Por Luiz Joaquim | 05.04.2007 (quinta-feira)

É sempre delicado quando se pretende suscitar reflexão
a partir do humor e Bruno Barreto vem flertando com
isso desde 2000, a partir de “Bossa Nova”. Como Fúlvio
Stefanini, ator de “Caixa Dois” (Brasil, 2007) que
estréia hoje, bem disse em entrevista coletiva semana
passada: “a comédia é uma ciência quase exata”.

Assim sendo, um descompasso, por menor que seja, pode
maltratar um trabalho bem intencionado. No caso desta
nova obra de Barreto, percebe-se um esforço coletivo
de todo o elenco em criar uma atmosfera situada entre
o naturalismo e o exagero para situar a principal
questão imposta pelo roteiro: o que você faria se R$
50 milhões, sujo, viesse parar por engano em sua conta
corrente?

O ponto é que, nesse intermeio da interpretação
objetiva (feitas aqui por Zezé Polessa, Giovana
Antonelli e Thiago Fragoso) e da interpretação teatral
(para os personagens de Stefanini, Cassio Gabus Mendes
e Daniel Dantas), temos registradas num mesmo universo
dramático duas posturas incompatíveis de
representação. À propósito, o filme foi adaptado de
uma peça teatral homônima, escrita por Juca de
Olivera, e, à princípio, guardou alguns efeitos
dramáticos que não encaixam numa narrativa de cinema.

Situações como a “coincidência” em que o banqueiro
Luiz Fernando (Stefanini) descobre que seus R$ 50
milhões foram parar na conta corrente da esposa
(Polessa) de seu funcionário Roberto (Dantas) no
momento em que este o ameaça com um revolver dão
apenas a sensação de que estamos sendo enganados para
aceitar uma piada em processo. É possível que a
‘enganação’ pudesse ser relevada pelo espectador se a
piada fizesse rir. Mas não é o que acontece.

Em alguns filmes, incluindo os humorados, recados são
melhor passados se de forma sutil. No caso de “Caixa
Doi$” não há sutilezas. Há o inverso. O próprio
Barreto comentou na coletiva que queria fazer um filme
que suscitasse o “conflito universal” de ficar ou não
com o dinheiro alheio quando se precisa deste
dinheiro. Mas o subtrato moral que fica aqui é
delicado. Há dois desfechos igualmente duvidosos no
filme.

Se num momento todos riem, como se descobrissem por
quão estúpido caminho pode ser conduzida uma discussão
por dinheiro (aí temos uma solução um tanto simplória
e moralista), num outro momento temos o retorno da
briga pela maior parte do bolo, no melhor estilo da
série “A Grande Família”, quando todos, na sala de
estar, falam ao mesmo tempo e ninguém se entende.

Neste caso, o que fica ao sair da sala escura é que
ninguém presta mesmo – exceto o personagem de Dantas –
e nada do que foi dito em prol da seriedade durante
toda a projeção precisa ser levado em conta. Rir de
tudo isso é que é difícil.

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