A Força ainda encanta o universo
Os 30 anos de Guerra nas Estrelas
Por Luiz Joaquim | 25.05.2007 (sexta-feira)
Há muito tempo, em uma cidade muito muito distante, um homem de 29 anos tinha o sonho de fazer um filme no qual toda ação aconteceria no espaço. Para tanto, ele tinha uma visão única desse universo que desejava criar no cinema. A estética deveria ser completamente diferente das que as produções ‘B’ de Hollywood vinham fazendo desde os anos 1950 e o ritmo seria bem mais alucinado que em “2001, Uma Odisséia no Espaço” (1969), que era a grande referência da ficção cientifica nas telas até então.
Com dois longas-metragens no currículo – o fracasso comercial “THX-1138” (1971) e o sucesso de bilheteria “Loucuras de Verão” (American Graffiti, 1973) – este homem trabalhou por um ano inteiro no roteiro dessa saga intergaláctica desacreditada por todos, incluindo a Twenty Century Fox. Até que, em 25 de maio de 1977, 11 dias após ter completado 33 anos, George Lucas deu ao mundo “Guerra nas Estrelas” (Star Wars).
Com seu terceiro filme, Lucas não só salvaria a indústria do cinema norte-americano, que vinha num galopante processo de decadência financeira, como mudaria, em escala mundial, a postura do mercado cinematográfico. O irônico é que a escola de Lucas era o circuito da produção independente, ao lado dos amigos, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e Martin Scorsese.
Lançado nos Estados Unidos em 37 salas (padrão normal para a época), o filme que custou US$ 13 milhões de dólares arrecadou 1,5 milhões em apenas cinco dias. E esse era apenas um dos 36 recordes que o novo lançamento da Fox quebrava na história do cinema. Com o sucesso, os estúdios perceberam que filmes podem ter vida além da tela e, partir daí, a palavra ‘merchandising’ ganhou um novo status no meio cinematográfico.
Camisetas, livros, albuns, HQs, máscaras, sabres de luz e bonecos dos novos heróis do espaço eram desejados por milhões de pessoas (em particular crianças) por todo o mundo. O que as distribuidoras majors estavam aprendendo com a experiência de “Guerras nas Estrelas” era uma verdadeira revolução mercadológica. A partir dali, começou-se a pensar no lançamento de um filme como um evento, na hora certa, em quantidade certa e com o preço certo.
UM NOVO MUNDO
Expressões como “Há muito tempo, em uma galáxia muito muito distante…” e “Que a Força esteja com você” tornaram-se uma espécie de código para a geração dos anos 1970 (e futuras), já dormente pelas perspectiva apocalíptica com a qual Hollywood mostrava o futuro naqueles anos, como em “O Planeta dos Macacos” (1968) e “The Omega Man” (1971), ambos com a estrela Charlton Heston encabeçando elenco para dar credibilidade aos espectadores. Até mesmo nesse aspecto, “Star Wars” era inovador, pois colocava protagonizando numa super-produção três desconhecidos do grande público: Mark Hamill, Carrie Fisher (aos 20 anos) e Harrison Ford, com quem Lucas já trabalhara em “American Grafitti”.
Em 1975, tendo já conseguido o solitário apoio do executivo Alan Ladd Jr, da Fox, o jovem cineasta criou a Lucasfilm e depois a Industrial Light & Magic (ILM) pois, na época, Lucas não encontrava nenhuma empresa competente o suficiente para criar a fantasia que ele vislumbrava para “Guerra nas Estrelas”. Os resultados alcançados pela ILM no filme abriram os olhos para toda uma nova possibilidade de efeitos que viriam ditar o gênero sci-fi por anos até a chegada do digital.
No campo dramático, o cineasta tinha como referência o cinema japonês e o livro “O Heróis da Mil Faces”, de Joseph Campbell (1904-1987), no qual o autor detalha as características do herói presente em todas as grandes obras do cinema, da literatura e do teatro. Lucas criou seus próprios mitos dando rosto e voz para os arquétipos do velho sábio (Obi-Wan Kenobi) , dos valentões (Han Solo e Chewbacca), dos bobos (C3-PO e R2-D2), do herói puro (Luke Sky Walker), da mocinha (Princesa Léia) e do vilão (Darth Vader). Com eles, Lucas concebeu um folclore mundial, do qual, há 30 anos, todos compartilham um mínimo de conhecimento.
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