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Reportagens

O filme em uma imagem

Livro

Por Luiz Joaquim | 29.05.2007 (terça-feira)

Pouco conhecido fora do meio cinematográfico, mas não menos importante, o artista gráfico, designer e ilustrador Fernando Pimenta, 56 anos, reuniu num projeto pessoal, o livro “O Cinema Brasileiro em Cartaz, de Fernando Pimenta” (PimentaDesign & Comunicação Ltda, 170 págs., R$ 100,00), os seus 150 mais significativos trabalhos. São as criações feitas para cartazes de cinema, relembrando a identidade primeira de vários filmes importantes.

Logo no prefácio, o produtor Luiz Carlos Barreto explica o valor deste trabalho normalmente relegado à desimportância: “O cartaz é, talvez, a peça fundamental para provocar no espectador a vontade de ver um filme, isto porque é através dos cartazes que se tem o primeiro contato visual com o produto filme”.

Com a brochura pronta, ficam documentados mais de 40 anos da história visual do cinema nacional, incluindo aí algumas criações para filmes estrangeiros e festivais de cinema brasileiro e do exterior. Parte deste conteúdo foi, inclusive, objeto de exposição no Shopping Guararapes no período do 11º Cine-PE: Festival do Audivisual, há um mês.

Dividido em quatro categorias – cartazes para filmes brasileiros de ficção, de documentários, para filmes estrangeiros e cartazes institucionais -, o livro dá uma visão abrangente da versatilidade de Pimenta para pensar o todo do filme como uma imagem síntese. Interessante aqui são os comentários/revelações críticas do próprio artista para cada um dos cartazes expostos.

Sobre o “Tiêta”, ele, desavergonhadamente diz a respeito do azul por trás da cabeça de Sônia Braga: “aquele céu é do “Windows…”. Ou sobre a peça para “Bela Donna”: “É o que eu chamo de clássico/medíocre”. Mas, em contraposição, temos a oportunidade de saber como nasceu a idéia para clássicos reais nessa área da indústria do cinema.

Sobre “Câncer”, de Glauber Rocha, por exemplo, Pimenta explica que “esses splashs são vários respingos de nanquin em vários papeis separados, selecionados, recortados, montados, fotografados e retocados até a exaustão. Eu sabia que ia usar aquilo a vida inteira. E uso”.

Para “Pra Frente Brasil”, com o rosto de Reginaldo Farias de ponta-cabeça, Pimenta conta que “montamos um Pau de Arara de verdade e o Reginaldo, um excelente ser humano, guentou (sic) umas seis horas de fotos. Depois o Roberto (Farias, diretor) reclamou que o lado bom do Reginaldo não era aquele… tudo bem…”. Já em “Pixote”, com o menino Fernando Ramos em fuga, iluminado pelos farois de um carro, Pimenta conta: “levamos o Fernandinho lá para casa do Alexandre, fotógrafo, onde tinha paralelepípedo e ninguém para ficar olhando. Eu havia escolhido aquela cena do filme como marca, mas tinha de ter a limpeza de um anjo subindo aos céus. Reproduzimos e lapidamos a cena como nos convinha. Ficou perfeito”.

Com o cartaz para “Contos Eróticos”, marco da pornochanchada, que reúne quatro curtas-metragens adaptados de contos premiados pela a extinta revista masculina “Status”, Pimenta não só foi ao cerne da questão, a partir da história “Vereda Tropical”, na qual o ator Cláudio Cavalcanti faz sexo com uma melancia, como mostra o quão uma ideia pode oferecer melhor resultado imagéticos independente das possibilidades de um parafernalha tecnológica.

Sobre esse clássico, ele recorda: “levamos uma semana para encontrar uma melancia com textura uniforme, sem manchas e ovalidade simétrica, ou, fui na feira, comprei dez melancias, escolhi uma, eu mesmo retoquei a bichinha”.

Difícil mesmo é tentar escolher algum trabalho que sintetize a obra de Pimenta. A capa do livro é ilustrada com a imagem que ele fez para “Yndio do Brasil”, de Silvio Back, mas talvez Luiz Carlos Barreto, mais uma vez, tenha razão quando ele no prefácio fala da beleza e da inventividade de Pimenta quando fez o pôster para o 1º Fest Rio (1984). “Uma visão da Baia da Guanabara com o Pão de Açucar fechando o arco da curva da enseada da Praia de Botafogo, com as margens enfeitadas com frutas tropicais (bananas, abacaxis, melancias, cajus, etc.)”. É, sem dúvida, um espetáculo imaginativo e visual, assim como o próprio evento que retratava.

SERVIÇO:
“O Cinema Brasileiro em Cartaz, de Fernando Pimenta” (170 págs.)
PimentaDesign & Comunicação Ltda
R$ 100,00

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