17° Cine Ceará, 2007, (5)
Cine Ceará olha para a Guatemala
Por Luiz Joaquim | 07.06.2007 (quinta-feira)
FORTALEZA (CE) – Noite de quarta-feira e o 17º Cine Ceará exibe seu mais modesto longa-metragem da mostra competitiva. ‘As Cruzes’ (Las Cruces, Poblado Próximo, 2005) é uma das raríssimas produções que temos acesso da Guatemala. Apesar de singelo em quase todos os aspectos técnicos (fotografia, interpretação, mise-en-scène, montagem), ‘As Cruzes’ é nobre no tema ao dramatizar a determinação de meia dúzia de guerrilheiros nos anos 1980 em defender um vilarejo preste a sofrer a devastadora ação militarista do país, implantada em 1954.
Mas os diálogos ingênuos e os conflitos circunstâncias criados pelo roteiro para simular uma ação que realmente teve par na história do Guatemala não sugerem um envolvimento para além do que se vê na tela. A própria fragilidade e a falta de recursos como os guerrilheiros são aqui retratados remetem, inicialmente, aos guerrilheiros de ‘Bananas’, sátira rodada por Woody Allen nos anos 1970 a respeito das instáveis repúblicas sob o julgo da ditadura ou da revolução.
Mas ‘As Cruzes’ é um filme muito sério que, como apresentou seu diretor guatemalteco Rafael Rosa, ‘quer entender o passado e o presente de seu país’. Só nas imagens documentais, ao final do filme, registrando o sepultamento de desaparecidos do vilarejo Las Cruces, entre os mais de 40 mil na história militarista da Guatemala, é que temos um regulado tom dramático do sofrimento ali vivido.
Um dos poucos acertos de ‘As Cruzes’ está também no que há de conflito humano nesse cenário, ou seja, o drama da pré-adolescente obrigada pelo desconfiado pai a se vestir como menino para não ser molestada pelos guerrilheiros.
Antecedendo o longa, o Cine Ceará apresentou os curtas-metragens ‘Galinha ao Molho Pardo’, do mineiro Feliciano Coelho; o paulista ‘Yansan’, de Carlos Eduardo Nogueira; ‘O.D. Overdose Digital’, de Marcos DeBrito; e ‘No Rastro do Camaleão’, de Eric Laurence. Mas quem abriu a noite foi a atriz Vanja Orico, 75 anos, homenageada do festival e conhecida por atuar com Fellini em ‘Mulheres e Luzes’ (1950) e ser uma das estrelas de ‘O Cangaceiro’, de Lima Barreto. Feliz, Orico fez a platéia do São Luiz acompanhá-la nas palmas enquanto cantava o refrão cangaceiro ‘olé mulé rendeira’.
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