Esses Moços
Desbravando a metrópole pela fraternidade
Por Luiz Joaquim | 01.06.2007 (sexta-feira)
Não é o cartão postal da Salvador que irá se ver em “Esses Moços” (Brasil, 2007), primeira experiência do diretor baiano José Araripe Jr. num longa-metragem, que entra em cartaz no Cinema da Fundação. Nem tampouco serão encontradas as atuais estrelas da Bahia, como Lázaro Ramos e Wagner Moura, tão freqüentemente presentes no cinema brasileiro. O carnaval de Ivete Sangalo também não está lá. E talvez por isso mesmo este filme mereça atenção.
Fruto do obstinado trabalho de Araripe, iniciado em 2001, “Esse Moços” opta por trazer ao espectador uma perspectiva mais crua do que é o soteropolitano urbano de hoje, podendo esta compreensão ser estendida a qualquer metrópole brasileira. A própria Cidade Baixa de Salvador, com imagens que incluem o subúrbio ferroviário, belamente fotografadas por Hamilton Oliveira, parece funcionar como um personagem que ora embala, ora maltrata o trio protagonista.
São eles as duas irmãs Darlene e Daiane (as estreantes Chaiendi Santos e Flaviana da Silva), meninas de rua que encontram o desmemoriado velho Diomedes (o ator Inaldo Santana) agarrado a uma misteriosa mala como quem segura o seu próprio passado. De início a menina mais velha vê no idoso uma nova oportunidade de ganhar dinheiro na rua, enquanto a mais nova identifica de imediato ali a figura de um avô que nunca teve.
Tal qual em seu mais celebrado curta-metragem, “Mr Abrakadraba!” (1996), onde um velho mágico suicida (Jofre Soares) encontra o desejo de viver através de um menino de rua, Araripe consagra em “Esse Moços” o encontro do menor abandonado com o maior abandonado.
Apesar do sugestivo mote e das diversas situações conflitantes criadas pelo roteiro co-escrito com Hilton Lacerda, Ricardo Soares e Victor Mascarenhas, o filme se mostra por alguns momentos muito mais concentrado na formação do perfil dos personagens e menos num desenvolvimento mais orgânico de sua problemática. Outro ponto delicado está na trilha sonora, que parece chamar a atenção para si um pouco mais do que deveria. De qualquer maneira, com “Esses Moços”, Araripe nos rememora que se pode haver algum alento concreto entre os sem-teto, ele se dará pela fraternidade. E isso é bom.
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