Não por Acaso
Barcinski estréia em seu primeiro longa-metragem
Por Luiz Joaquim | 07.06.2007 (quinta-feira)
A estréia de Philippe Barcinski num longa-metragem entra em cartaz hoje e tem ‘na manga’ um atrativo midiático chamado Rodrigo Santoro. ‘Não Por Acaso’ (Brasil, 2007) não é nenhum desconhecido do público recifense, e apesar de ser um forte chamariz, Santoro funciona aqui como um elemento determinante e competente no enredo.
Mas não foi por outro motivo senão o de seu apelo como mais potente galã do cenário cinematográfico no país, que, quando exibido no 11º Cine-PE, o filme atraiu o maior público desta edição no Cineteatro Guararapes. Vejamos como se comporta agora nos multiplex.
O nome Barcinski não quer dizer muito para quem vai ver filmes em shopping centers, e não deve influenciar na hora deste público pagante decidir que filme ver. Mas para uma parcela de apreciadores do cinema brasileiro que acompanham a carreira pregressa do diretor como curtametragista, influencia sim.
Isso porque o nome Barcinski está atrelado a ‘A Escada’, a ‘A Janela Aberta’ e a ‘Palíndromo’: filmes curtos nos quais imprimiu uma acuidade pela forma tão definidora de sua narrativa quanto o que há de propriamente humano em seus enredos. Para Barcinski, o meio é a mensagem e é nele, e por ele, que seus personagens passam por experiências transformadoras.
Não podia ser diferente em seu primeiro longa, no qual encontramos Pedro (Santoro, convincente), um sujeito boa praça que herdou do pai o dom e a marcenaria onde fabrica as melhores mesas de sinuca de São Paulo. Em pleno momento de comunhão amorosa com sua companheira, perde a namorada para uma acidente que igualmente transforma a vida do solitário controlador de tráfego (Leonardo Medeiros)
Com esse encontro fatal, Barcinski nos fala do incontestável entrelaçamento das ações humanas. O detalhe é que este recado pelo intermédio da ação do acaso já teve inúmeros exemplos no cinema (no qual o mexicano Iñarritu é o mais recorrente neste exercício). Muitos, inclusive, com resultados inigualáveis de envolvimento. ‘A Fraternidade É Vermelha’, de Kieslowski, é uma lembrança forte aqui.
Envolvimento com o espectador, ou melhor, a ‘falta de’ é talvez o maior problema em ‘Não por Acaso’, que resulta numa obra fria, apesar das atuações adequadas e do objeto em questão aqui ser o amor paterno e o amor entre um casal. Talvez o filme mereça uma segunda observação, quando, talvez, o olhar desvie da arquitetura formal meticulosamente montada aqui por Barcinski, e passe a observar a camada de sofrimento humano que ficou por baixo de tudo isso.
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