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Críticas

O Hospedeiro

O monstro do rio Han

Por Luiz Joaquim | 15.06.2007 (sexta-feira)

É um intruso bem vindo este “O Hospedeiro” (Gwoemul/The Host, Coréia do Sul, 2006), que entra em cartaz no Cinema da Fundação. Sua intromissão se dá no elétrico universo dos filmes de monstros, tradicionalmente dominado por produções hollywoodianas. Este terceiro longa-metragem de Bong Joon-Ho virou fenômeno de bilheteria em sua terra natal, fazendo refletir sobre as estruturas que sustentam a hegemonia norte-americana no gênero.

Apesar de trazer consigo os elementos comuns aos enredos que dão corpo a esse tipo de produção, ou seja, concentrar a ação num grupo pequeno que foge e/ou resgata uma vítima do monstro, “O Hospedeiro” traz dois condimentos. Um é o humor e o outro é uma crítica subliminar contra não só o governo norte-americano mas também à própria forma de representação cinematográfica de Hollywood.

O humor fica por conta da atrapalhada família protagonista, encabeçada por Park (Song Kang-ho) e seu velho pai (Byen Hie-bong) que vendem comida num trailer às margens do rio Han. Juntos aos dois estão o irmão (Park Hae-il), um recém-formado desempregado, e a irmã (Bar Du-na), uma atleta medalha de prata em arco e flecha da Coréia do Sul. Todos eles tentam burlar a polícia, que os consideram portadores de um virus adquirido pelo contato com o monstro do rio Han. A família foge para resgatar a filha de Park (Ko Ah-Sung), seqüestrada pelo bicho gigante.

Já a corrosão política do enredo começa logo nas primeiras cenas de “O Hospedeiro” quando vemos, em 2000, um cientista norte-americano, numa base coreana, ordenando seu subordinado a despejar litros de um tóxico perigoso pelo ralo, que vai desaguar no rio Han. Seis anos depois, vemos uma população feliz, aproveitando uma bela tarde próximo ao tal rio, numa encenação que remete as iminente vitimas da praia de “Tubarão”, de Spielberg.

O momento entre a primeiro contato visual coletivo do monstro até seu primeiro ataque é um primor narrativo e de efeitos visuais na medida precisa. E a cutucada na cultura ianque não pára na irresponsabilidade do cientista. Em meio a primeira balbúrdia do ataque, um militar americano grita com os coreanos “vocês não sabem de nada”. Mais na frente, vemos uma autoridade gringa, comicamente vesgo, segredando que eles próprios foram os incompetentes com a história do virus.

Noutro momento, quando Park está sob o julgo dos imunologistas do Tio Sam, não é levado a sério quando diz que a filha ainda está viva, ele grita: “Ninguém ouve minhas palavras. Eu só quero que me escutem”. É como se o diretor Joon-Ho dissesse que enquanto Hollywood gasta 132 milhões de dólares para fazer “Guerra dos Mundos”, ele cria “O Hospedeiro” com 11 milhões de dólares e com o mesmo poder de fogo de um sci-fi de Spielberg. Joon-Ho pode ficar tranqüilo, o mundo agora presta muita atenção ao que ele diz.

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