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Reportagens

Vendendo fantasias

Arlindo Gusmão atua desde 1952 programando filmes no Recife

Por Luiz Joaquim | 01.06.2007 (sexta-feira)

Na reportagem “Mercador de Sonhos“, falamos sobre Antônio Silva, atuando (ainda hoje) desde 1945 na programação de filmes para as salas do Norte/Nordeste. Com alguns anos a menos de experiência que Seu Silva, mas não com menos histórias para contar, o Recife abriga também o lendário Arlindo Gusmão, 76 anos, outro programador que fez/faz história na cidade através da empresa “Aquarius Cinematográfica”, que hoje gerencia a programação da PlayArte, empresa que distribui no Brasil filmes como “Um Crime de Mestre”, com Anthony Hopkins.

A paixão de Gusmão pelo cinema iniciou quando, ainda garoto, ia ao extinto Cine Polytheama, situado na Rua Barão de São Borja. Só depois de trabalhar com tecidos num armazém, e ter passado pela Aeronáutica é que foi assumir o cargo de “viajante” na Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), em 1952, aos 21 anos. “Ia carregado de catálogos e fotos da empresa para apontar fitas cobrindo toda a região entre Alagoas e Amazonas. Viajava de trem, de ‘Rural’, de caminhão… para alguns lugares não tinha nem como chegar de ônibus”, recorda. Nessa época, Gusmão começou responsável pelo apontamento de filmes em 16mm até chegar aos de 35mm.

O ano de 1958, o veterano passou programando os títulos da Art Films e, no ano posterior, foi para a Warner Bros também como “viajante”. “Naquele período, chegamos a ter 18 funcionários da empresa só no Recife”, conta Gusmão que, em 1960, passou a trabalhar para a Herbert Richards, distribuidora com grande foco nos filmes nacionais, que também produzia e oferecia serviços de dublagem de filmes estrangeiros. Seu slogan são, até hoje, fáceis de escutar na TV: “Versão brasileira… Herbert Richards”.

Pela Richards, onde ficou até 1971, Gusmão implantou uma filial em Curitiba e recorda o lançamento dos sucessos “Assalto ao Trem Pagador” (1962), e “Meu Pé de Laranja Lima” (1970). Ao sair da empresa, partiu para a Ipanema, distribuidora de filmes brasileiros administradas pelos irmãos Farias (Roberto e Reginaldo).

A experiência com filmes nacionais o levou em 1974 a Embrafilme, antiga empresa estatal que gerenciava todos os módulos (produção, distribuição, exibição) do cinema verde-amarelo. Daquele período, Gusmão não esquece os sucessos de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) e “Lúcio Flávio: Passageiro da Agonia” (1977).

Pouco antes da gestão na Embrafilme, em 1973, Gusmão, criou a “Aquarius”, empresa pela qual chegou a comprar os royalties de alguns títulos em 35mm para distribuir; entre eles “El Cid” (1961), com Charton Heston, cópia que mantém até hoje. “Eu tinha comprado também um acervo de filmes em 16mm da Orga-Cine, de Fortaleza, e da Paris Filmes e Art Films, no Rio de Janeiro”, explica.

Era também pela Aquarius que chegavam ao Recife os principais “filmes de arte” que exibiam na cidade, como o italiano “A Classe Operária Vai ao Paraíso” (1971) e o francês “Sopro no Coração” (1971). “No tempo das vacas gordas”, como diz Gusmão, a Aquarius chegou a apoiar a revelação de quatro curtas-metragens de Fernando Spencer, entre eles o clássico “Adão Foi Feito de Barro” e “Almery e Ary, Ciclo da Vida”.

Aposentados e a nova geração

Junto a Gusmão e Antônio Silva, outras lendas da distribuição de filmes no País foram, os já aposentados, Antônio Barbosa, 79 anos, e Manuel Santana, 84. Barbosa iniciou em 1945 pela Warner Bros de onde saiu em 1947 indo para a UIP (que congregava a United Artist e a Paramount), onde ficou até 2000. Dos antigos lançamentos, Barbosa destaca o lançamento dos bíblicos “Sansão e Dalila” (1951) e “Os 10 Mandamentos” (1956). Dos mais recentes, ressalta “E. T.: O Extraterrestre” (1982) e “Ghost” (1990). Já Santana, foi responsável pelo lançamento de algumas obras da Warner, da Art Films e da distribuidora do Grupo Severiano Ribeiro.

Tocando o barco iniciado pelos veteranos do Recife na programação de filmes, encontramos Arnilo Oliveira, 59 anos, que assumiu a ex-UIP (hoje apenas Paramount Pictures) em 2000, mesmo ano que Barbosa se aposentou. Arnilo trabalha no setor desde 1977, quando era da Embrafilme, Concine, época em que fiscalizava os cinemas e depois, em 1987, as locadoras de vídeo no País. Esteve no Rio de Janeiro e Maceió até chegar ao Recife.

O mais jovem, mas já com 27 anos de experiência, é Edmilson de Carvalho, 49 anos, que iniciou dentro da “Sétima Arte”, de Seu Silva, como gerente exclusivo da Warner e Fox. Ainda atuou, por um ano, na distribuidora independente Superfilmes e, em 2004, passou a operar como autônomo, gerenciando hoje na região a programação da Paris Filmes e, desde outubro, a da California Filmes.

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