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Festivais

Festival do Rio 2007 (1)

Billie August apresenta uma perspectiva diferente sobre Apartheid

Por Luiz Joaquim | 23.09.2007 (domingo)

RIO DE JANEIRO (RJ) – Foi uma noite histórica. Quem esteve no belo Odeon BR, na concorrida noite de abertura do Festival do Rio 2007, quinta-feira, 20, relembra a euforia (até um pouco assustadora, dizem) para a première mundial de “Tropa de Elite” (Brasil, 2007), de José Padilha. Finda a sessão, alguns questionavam se o filme não era fascista, em sua forma de apresentar a violência, ou nas opções pela violência em suas situações criadas. “Reacionário” também tem sido outra forma de adjetivá-lo por aqui. Mas é certo que os simpáticos ao filme são maioria por aqui. A maioria dos 600 que o assistiram no Odeon e dos outros que o viram na sessão extra e lotada do Cine Palácio, também na quinta-feira.

“Tropa de Elite” à parte, o Festival do Rio corre a todo vapor. Ontem, sábado, 22, aconteceu a primeira sessão de “Interview” (Entrevista, EUA, 2007), de Steve Buscemi. Quem viu o recente “Paris, Te Amo”, viu Buscemi no episódio dos Irmãos Coen na estação do metrô. Cinéfilos conhecem o ator de outros Coen, dos Tarantino e Jarmusch que ele trabalhou. “Interview” é o quinto longa dirigido por Buscemi.

Curioso assistir ao filme no Festival do Rio, quando se sabe que a cidade está recheada de algumas celebridades do cinema mundial, e algumas outras (nem tão célebres assim) do cinema nacional. Isso porque no filme, Buscemi atua como um jornalista de política (Pierre) do fictício “Newsworld”, que precisa entrevistar Katya (Sienne Miller), atriz de bobagens hollywoodianas do tipo “Pânico 4”. É uma atriz mais famosa pela “flutuação do volume dos seios e pelas pessoas com quem ela dorme”, explica Pierre.

Pierre não sabe nada sobre Katya, e um acidente acaba o levando ao loft onde ela mora. A entrevista, que dura o filme inteiro (o período de uma noite), ganha um ar confessional, no qual nenhum dos dois se entrega totalmente ao outro. Buscemi e Miller estão ótimos. Ensaiaram bastante para segurar o filme sozinhos. O problema aqui é que essa performance quase matemática das emoções transparece na tela, diminuindo o impacto do que é humano no filme. Alguns diálogos são memoráveis e mostram um Buscemi amadurecido.

Já em “Married Life” (Vida de Casado, EUA, 2007), de Ira Sachs, coloca Pierce Brosnan, Chris Cooper e Patrícia Clark nos anos 1950. Lá o personagem de Brosnan, um solteirão convicto, é amigo desde infância do de Cooper, casado, mas traindo a esposa com uma jovem viúva. O filme segue com Brosnan, em sua narração em off, nos revelando sua determinação em tirar a amante do amigo. O interessante aqui, além dos aspectos técnicos impecáveis (direção de arte, figurino, trilha sonora incidental, etc.), é que o roteiro dá uma reviravolta quando coloca o personagem de Cooper em primeiro plano.

Ele é um homem que sempre acreditou no amor e nos amigos, mas está cercado por uma esposa apenas piedosa, de um amigo inescrupuloso, e por uma amante interesseira. Todos atuam com envolvente sinceridade e Cooper, em especial, pode ser forte nome para o Oscar 2008 por esse expediente.

À noite, houve Sessão de Gala com Billie August (“Pelle, O Conquistador”) apresentando seu “Goodbay Bafana” (literalmente Adeus Bafana, Fra./Alem./Belg., 2007). Oscar à vista por aqui também. Filme é grandioso, mas soa complicado em sua capacidade de envolver e convencer ao tentar cobrir quase trinta anos da prisão do líder sul-africano Nelson Mandela (Dennis Haysbert). A perspectiva é a de James Gregory (Joseph Fiennes, limitadinho), um carcereiro – o que cuidava de Mandela – sul-africano, branco e racista por formação, mas em conflito com isso pelas lembranças da infância que teve ao lado de um garoto negro. Dividir 30 anos de história política de um país com os dramas de 30 anos de uma família branca sul-africana talvez seja o maior problema de August, que dirigi o filme com dignidade.

Nas já cultuadas sessões à meia-noite do Festival, “Ainda Orangotangos” (Brasil, 2007), primeiro longa do gaúcho Gustavo Spolidoro era bastante esperado, não só pelo aclamado talento demonstrado pelo diretor em seus curtas-metragens mas por ser feito aqui um plano seqüência de 82 minutos. Obrigado, tecnologia digital, já dizia Sukurovi em “Arca Russa”. Mas “Orangotangos’ não acontece dentro de um museu, ou de um único recinto que seja. Pelo contrário.

Inicia na alvorada, num trem entrando na capital gaúcha e por lá passeia numa impressionante demonstração de sintonia entre equipe técnica, atores e a própria cidade de Porto Alegre. De esbarrão em esbarrão, a câmera vai de um personagem para o outro chamando a atenção para as tristezas e alegrias que convivem numa metrópole. O maior temor num projeto assim é a técnica chamar mais atenção que a dramaturgia e que o próprio argumento do filme.

Infelizmente é o que acontece aqui. Apesar da entrega visceral de alguns atores (outro mais, outro menos), ao fim da projeção, pouco fica na memória do espectador além das “flutuações” da câmera entre o dia e a noite gaúcha, por dentro de ônibus, apartamentos, lojas e ruas. A grande questão que o filme levanta, inicialmente, é mesmo técnica. Diz respeito a representação da passagem do tempo, quando, no episódio do casal que bebê perfume (um dos melhores), vemos as horas passarem em pouco minutos, representada plasticamente apenas pela mudança da luz dentro de um quarto. Quando a câmera volta para a rua, já é noite. Deve ter dado trabalho.

Nenhum dos filmes aqui comentados tem data de estréia confirmada no Brasil.

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