Festival do Rio 2007 (3)
Juizado de menores em foco no Festival do Rio
Por Luiz Joaquim | 25.09.2007 (terça-feira)
Rio de Janeiro (RJ) – Segunda-feira era o quarto dia competitivo do Festival do Rio 2007 e um dos mais procurados filmes do dia fazia parte da Première Latina. Trata-se de “Nascido e Criado” (Nacido Y Criado, Arg., 2006), do aclamado Pablo Trapero. Vencedor dos Kikitos de melhor filme, direção e fotografia na mostra latina de Gramado, em agosto, “Nascido…” está mais próximo da secura inquietante que Trapero colocou em seu “Do Outro Lado da Lei”, da graça que está em “Família Rodande”.
Filme não abre concessões para facilidades narrativas ao contar a história de Santiago (o visceral Guillermo Pfening), um decorador bem sucedido e feliz com sua esposa e filha pequena numa Buenos Ayres tranqüila. Após um acidente trágico envolvendo os três, e sem nenhuma informação adicional sobre o destino da esposa e filha. Trapero corta para o deserto gelada da Patagônia, onde encontramos o protagonista trabalhando num aeroporto no meio do nada e lá, meio louco, meio são, Santiago tenta administrar seu trauma, o sentimento de culpa pela morte da família. Pfening cresce a cada fotograma. Vira um monstro de interpretação a cada expressão de dor, contida ou não, de seu personagem.
À noite, o Odeon BR reservou Sessão de Gala para “Juízo”, segundo filme de Maria Augusta Ramos, que nos deu em 2004 o ótimo documentário “Justiça”. O foco no novo filme é o mesmo: o processo judicial brasileiro visto por dentro, numa sala de audiência. A diferença é que os réus são menores de 18 anos. O curioso aqui é que, como a justiça veda a identificação de jovens infratores, Ramos usou jovens não-infratores para mostrar o rosto no filme. Todos os outros personagens – juizes, promotores, defensores, agentes dos institutos de reclusão e familiares dos réus – são reais e foram filmadas durante as audiências. O filme, como disse a diretora “é um híbrido” entre documentário e encenação, e não seria errado acrescentar que Ramos impressiona mais uma vez não só pela maneira como consegue deixar sua câmera invisível como também pelo poder de penetração neste campo tão controverso e delicado que se chama justiça brasileira.
No “Foco China”, a atriz Jiang Yihong veio apresentar “Sombras Elétricas” (Meng Ying Tong Nian, 2004), de Xiao Jiang. Impressionada com a paisagem do Rio, aqui pela primeira vez, Yihong disse todos parecem artistas no Brasil e que gostaria de trabalhar numa produção local pois sua referencia para o cinema brasileiro sempre positiva. Seu “Sombras Elétricas” era comentado nos bastidores do Festival como o “Cinema Paradiso” da China. Isso porque o filme conta trinta anos da história do cinema chinês, resgatando imagens de clássicos de lá, através do diário de uma mulher (Yihong) que perdeu a memória. Com estética de obra ocidental, “Sombras…” tem problemas principalmente com a melosa trilha sonora.
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