Festival do Rio 2007 (5)
Chatherine Breillat vai ao século 19 para vislumbrar fronteira entre o amor e o sexo
Por Luiz Joaquim | 27.09.2007 (quinta-feira)
Rio de Janeiro (RJ) – No gigantesco leque de filmes oferecido pelo Festival do Rio, a orientação por diretores já consagradas no circuito europeu é um bom norte na hora de escolher um título para ver, sem correr risco, um bom filme e não se deparar com uma bobagem. Nesse sentido, os franceses André Techiné e Catherine Breillat (de “Romance” e “Para Minha Irmã”) oferecem aqui, respectivamente seus novos “As Testemunhas” e “Uma Velha Amante” (foto acima).
No primeiro, vamos a Paris de 1984 e acompanhamos um promíscuo jovem homossexual que se envolve com um médico mais velho (Michel Blanc), um policial (Sami Bouajila) e sua esposa (Emmanuelle Béart). A atmosfera é a da descoberta da Aids, cheia de dúvidas e incertezas sobre a “praga” entre prostitutas e gays. Filme é frio e tem ritmo veloz para sentimentos no mesmo ritmo da emergência destes dois grupos de pessoas, que eram as primeiras vitimas soropositivas no ocidente dos anos 1980. Interessante aqui é que Techiné deu à sua obra uma cara muito semelhante às produções da época.
Em “Uma Velha Amante”, Breillat sai de seu habitual tempo, o contemporâneo, e vai para Paris do século 19. Lá temos o libertino Ryno de Marigny prestes a casar com a nobre Hermangarde. Antes, ele conta para a avó dela suas confidências que se traduzem nos dez anos que passou ao lado da cortesã Vellini (Ásia Argento). A época é outra, mas Breillat mantém sua fascinação pela fronteira entre o valor do sexo e do amor entre um homem e uma mulher. Visivelmente fascinada pelo belo ator que interpreta Ryno, Breillat quase não tira o close do rosto hermafrodita do rapaz. Destaque fica também com a interpretação magnética de Argento, perfeita, como sempre, para personagens perturbados e perturbadores no que diz respeito ao sexo. Pela relação dependente e impossível de Vellini com o jovem Ryno, “Uma Velha Amante” remete em alguns instantes ao clássico “A História de Adele H.”, de François Truffaut.
O Festival fez também uma Sessão de Gala para “O Banheiro do Papa”, de Enrique Fernandez e César Charlone. Este último conhecido fotógrafo de Fernando Meirelles, com quem atualmente filma nos Estados Unidos a versão de “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago. Charlone deu um tempo nas filmagens para vir ao Rio apresentar “O banheiro…”.
Filmado com carinho em cada fotograma, o título brinca com um fato real. A visita do Papa João Paulo II a Melo, vilarejo uruguaio que faz fronteira com o Brasil. Ali, o muito, muito pobre Beto trabalha como muambeiro ilegal levando mercadorias para Melo. Como a população espera uma movimentação de 50 mil brasileiros no município para ver o Santíssimo, montam barracas e compram centenas de quilo de comida para vender como ambulantes. Beto tem uma idéia melhor, constrói um banheiro para atender às necessidades dos fieis.
A história corre junto com Beto, que corre contra o tempo para conseguir dinheiro e construir o banheiro antes da chegada do Papa. Charlone e Fernandez nos dão um delicioso presente, com qual, nós brasileiros, conseguimos nos identificar fácil, seja pela histórica vocação católica, seja pela histórica necessidade de correr atrás do dinheiro com o que se tem ao alcance e sempre apelando para a inventividade divertida. E, acima de tudo, com alegria.
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