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Um flamenguista imortal

Na clássica foto, o escritor beija a bandeira de seu clube

Por Luiz Joaquim | 12.09.2007 (quarta-feira)

Há 50 anos morria um dos mais vorazes torcedores do Clube de Regatas Flamengo. Muitos lembram deste rubronegro apenas como autor de clássicos da literatura brasileira tais como “Menino de Engenho” (1932), “Riacho Doce” (1939) ou “Fogo Morto” (1943). Poucos conhecem José Lins do Rego (1901-1957) pelas presepadas que aprontava como sangüíneo defensor que era do time carioca. Algumas destas extravagâncias são contadas no filme “O Engenho de Zé Lins”, que o documentarista paraibano Vladimir Carvalho, conterrâneo do cinebiografado, lançará em breve nos cinemas.

Por telefone, do Rio de Janeiro, Carvalho nos falou do depoimento de alguns de seus entrevistados sobre o “trator” Zé Lins, quando o assunto era o Flamengo. O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, por exemplo, explica que o romancista tinha uma tendência para a depressão era bipolar, tinha uma variação constante de humor. A devoção pelo futebol seria, então, uma maneira de extravasar suas tensões.

Numa ocasião, quando o Flamengo disputava um campeonato entre os anos 1940 e 1950, Zé Lins era seu sócio-proprietário e viajou com o time, como um dos dirigentes que era, para o Velho Continente. Não podia deixar de acompanhar os jogos de perto. Naquela época, Zizinho era o craque do selecionado, mas não correspondeu numa partida importante. “Zé Lins não teve dúvidas e esculhambou o jogador. A humilhação foi tanta que Zizinho pagou do próprio bolso a passagem para o Brasil e deixou o Flamengo na mão”, recorda Carvalho. “Contam que Zé Lins depois se arrependia e se jogava numa banheira com uma garrafa de uísque”.

A fama de exaltado que tinha quase interrompeu sua amizade com o filho do senador Afonso Arinos. Certa vez, Arinos Filho (hoje membro da Academia Brasileira de Letras) e Zé Lins foram ver um partida no estádio General Severiano (do Botafogo), mas neste dia não houve jogo. O Flamengo se recusara a se apresentar. Em meio a tensão na saída do estádio, Zé Lins levou um tapa de um torcedor do Botafogo e Arinos partiu para defendê-lo. Resultado: Arinos chegou em casa sangrando e seu pai o proibiu de sair novamente com a “má influência” que era a desse tal de Zé Lins.

Entrou para a história também quando, após uma partida do Mengão, o romancista foi aos vestiários e viu a camisa sem um pingo de suor de um de seus maiores craques, Jair da Rosa Pinto – conhecido como “o canhão” por ser o melhor cobrador de faltas de sua época. O esquentado Zé Lins não teve dúvidas. Confiscou a camisa do craque como a prova de um crime e na mesma hora foi para o Centro do Rio de Janeiro. Lá chegando, subiu no capô de uma carro e fez uma verdadeira palestra sobre a vergonha de uma jogador, mesmo sendo o Rosa Pinto, não suar a camisa pelo seu time. Este era José Lins do Rego, um imortal torcedor do Flamengo.

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