Piaf: Um Hino ao Amor
O ser-humano, antes da diva
Por Luiz Joaquim | 25.10.2007 (quinta-feira)
Edith Piaf costumava dizer: “Use suas falhas, use seus defeitos, e você será uma estrela”. O filme “Piaf : Um Hino ao Amor” (La Môme, Fra., 2007) dirigida por Olivier Dahan, e que chega amanhã aos cinemas do Recife, não podia ser mais fiel ao perfil e espírito de sua cinebiografada, tão bem traduzido na sua assertiva, que abre esse parágrafo.
Ela foi (é), talvez, o mais forte ícone musical da França no século 20. Não só pelo seu talento, mas pela sua postura diante da breve vida que teve. Morreu antes de completar 47, e com uma aparência de 74, por conta do álcool e drogas pesadas que usou durante uma existência, sempre caminhando na beira do abismo entre o sofrimento físico e emocional.
Entre tantos méritos, o filme de Dahan (diretor do bobo “Rios Vermelhos 2 – Anjos do Apocalipse”) resgata o que foi o ser-humano Edith antes de se tornar Piaf. Antes de se tornar a autêntica diva para a qual o mundo se curvou. Vemos a menina Edith ser abandonada pela mãe para ser criada num prostíbulo pocilga, e já na infância, vemos a música como sua tábua de salvação, ajudando-a a sobreviver. É por ela que a jovem consegue sair da rua até chegar ao ápice do reconhecimento internacional. A cena que abre o filme, inclusive, apresenta este momento, com uma show em Nova Iorque, no qual a cantora desmaia em pleno palco.
“Um Hino ao Amor” (terrível subtítulo brasileiro) deve muito de sua altivez à protagonista Marion Cotillard, cujo papel de mais destaque antes de Piaf foi como a esposa de Russel Crowel em “Um Bom Ano” (2006). Críticos já disseram que Cotillard não interpreta Piaf, mas está possuída por ela. Quem já teve acesso a imagens de arquivos da cantora, sai assustado com a performance que vê na versão dramatizada. Cotillard nos dá a jovem Piaf, nos dá a amadurecida Piaf, e a envelhecida e frágil Piaf. Em todas as fases, a maquiagem importa menos que sua postura em cena.
Não será surpresa se em janeiro a academia de Hollywood anunciá-la como concorrente para a estatueta do Oscar. Mas o talento narrativa conduzido por Dahan também não pode ser esquecido. “Um Hino…” tem a capacidade de passear em elipses por vários momentos da vida da artista, sem deixar o espectador zonzo ou confuso. Suavidade é a melhor palavras para traduzir as transposições temporais.
Para aqueles que acharem certo manter erguido o preconceito contra cinebiografias e pretendem evitar “Piaf: Um Hino ao Amor”, é bom escutar o que La Môme dizia: “use seu erro” e vá ver o filme.
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