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Críticas

Querô

Verniz humano em pinceladas sérias para um garoto marginalizado

Por Luiz Joaquim | 19.10.2007 (sexta-feira)

Dois meses após estrear no Sudeste, chega ao Recife, no Cinema da Fundação, “Querô” (Brasil, 2007). O filme é o longa-metragem em ficção de estréia de Carlos Cortez. Esta é a segunda adaptação baseado na obra de Plínio Marcos, após “Barra Pesada” (1977), dirigido por Reginaldo Faria e com Stepan Necerssian no papel de “Querô”.

Com todo o respeito a Necerssian, o garoto Maxwell Nascimento, no filme de Cortez, nos dá um presente com sua interpretação visceral para o moleque criado num prostíbulo imundo da portuária Santos, São Paulo. Nascimento não era ator. Tornou-se. Ele foi selecionado de testes com mais de 1.200 garotos, entre 12 a 21 anos, das cidades de Santos, Guarujá, Cubatão e São Vicente. Destes, 200 vieram das oficinas de atores coordenadas pelo preparador de atores Luiz Mário Vicente.

A direção de Cortez, até então com experiência apenas em documentários, também é afinada. Nos dá um retrato cru e impactante do trajeto de degradação humana vivida pelo menino, repetindo, de forma hipnótica de Maxwell. Por sua atuação, foi eleito melhor no Festival de Brasília 2006. No CineCeará 2006, o longa arrebatou títulos de melhor filme, ator e edição.

Vivendo de pequenos delitos pelo porto de Santos, Querô é empurrado para o inferno da marginalidade e quase sem direito a redenção. Num equilíbrio delicado, Cortez e Nascimento conseguem dar uma verniz digno de humanidade ao personagem que, normalmente é visto apenas pelo seu aspecto marginal. A primeira impressão, finda a projeção, é a que ‘Querô’ é uma espécie de ‘Pixote’ dos anos 2000.

Mesmo com uma domínio preciso de ritmo, Cortez peca apenas quando, em uma seqüência implanta ‘flashbacks’ na memória de Querô, para resgatar um trauma que já havia sido muito bem desenhado em sua complexidade dramática.
Interessante observar a coincidência de estréias neste fim de semana no Recife. Ambos têm adolescentes como protagonistas. O de “Querô” luta pela sobrevivência. Os de “SuperBad” lutam para ter sexo.

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