Tropa… já vi e vou rever
Por que pessoas que viram o filme vão revê-lo no cinema?
Por Luiz Joaquim | 16.10.2007 (terça-feira)
Como se não bastasse a polêmica em torno do discurso leviano, ou não, que cerca o filme “Tropa de Elite”, o Recife acordou ontem com a notícia da morte do agente penitenciário Ivson Correa de Oliveira Santos, 39 anos, que, após levar um tiro no final da sessão do filme, ainda dentro da sala 6 do UCI/Ribeiro do Shopping Tacaruna, veio a falecer no hospital após cirurgia.
Além do debate em torno da violência que circunda o filme, ou em torno da violência que o filme retrata sem maquiagem, a produção gerou um fenômeno novo e inédito. Estima-se que 11 milhões de pessoas já o assistiram baixando o filme pela internet ou através de um cópia pirata vendida no mercado ilícito. O fato passaria despercebido se o filme fosse norte-americano mas, além de ser uma produção com quem todos tem algum elo de identificação, há ainda outro fenômeno. Uma grande parcela daqueles que já viram garantem que vão rever a truculência do Capitão Nascimento (Wager Moura) nos cinemas.
O estudante Eduardo Cardoso, 21 anos, faz parte do grupo que teve acesso ao filme antes dele ser lançado oficialmente. “Um amigo baixou pela internet e me mostrou o filme. Eu já estava curioso pelos comentários, diziam que o filme tinha o padrão de arrasa-quarteirão americano, mas quando vi percebi que ele quebra alguns paradigmas do cinema nacional”, avalia.
Apesar de ter visto o filme na TV, Cardoso diz que filmes devem para ser visto no cinema, “pois foi para aquele espaço que ele foi concebido originalmente”. E continua, “vou vê-lo no cinema porque também quero sentir o impacto de uma sessão ao lado de outras pessoas”.
Já Juliano Dornelles, que atua como diretor de artes em diversas produções no Estado, está um passo a frente de Eduardo. Viu a cópia pirata de “Tropa….” e logo no primeiro dia de estréia do longa, sexta-feira passada, foi ao Shopping Tacaruna. “O pirata apareceu em casa através de amigos. Já acompanhava a história do filme há muito tempo pela imprensa. Estava ansioso e não resisti”, revela Juliano, salientando que antes de ver a cópia pirata, já estava decidido a vê-lo no cinema, “é uma sacanagem não ir ver no cinema”.
E que diferenças observou entre as duas versões: “praticamente nenhuma. Há, claro, diferenças na finalização de som, que no cinema percebemos com clareza, mas foram poucas as cenas alteradas. O que não me agradou foi o tratamento da fotografia que vi no cinema. A versão anterior, sem correção de cor, tinha um tom mais cru e mais realista”, finalizou Juliano, que diz ter ficado espantado com algumas pessoas na platéia vibrando com as seqüências de violência na sala de exibição.
A universitária Andresa Rangel, 20 anos, também já pagou para ver no cinema o que antes tinha visto no DVD. “Eu nunca tinha ouvido falar do filme. Quando o vi pela primeira vez achei legal a abordagem. Queria ver no cinema. Eu não tinha certeza, mas desconfiava que a cópia pirata era inacabada. No cinema percebi algumas diferenças no tratamento de som e da fotografia”, concluiu.
Até o último domingo, 900 mil pessoas em todo o país já tinha pago ingresso para ver a obra nos cinemas. A mesma pesquisa que informa o número dos 11 milhões de espectadores piratas de “Tropa de Elite”, estipula que 22 milhões devem ir vê-lo nos cinemas até o fim de sua temporada. Se assim for, estamos vivendo um momento não só histórico no cinema brasileiro, mas indicador de futuras posturas a serem tomadas pela nossa produção.
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