1ª Jornada do Cinema Silencioso (Recife)
Redescobrindo o Ciclo do Recife
Por Luiz Joaquim | 19.11.2007 (segunda-feira)
É mais que nobre, em termos cinematográficos para Pernambuco, o que está para iniciar hoje às 20h no Teatro Santa Isabel e seguir de amanhã até quinta-feira no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Trata-se da I Jornada do Cinema Silencioso, que a Fundaj, junto a Cinemateca Brasileira, a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura do Recife estão oferecendo à cidade. O evento, que teve em São Paulo uma versão mais ampla no mês de agosto, chega aqui concentrando-se em sete filmes, todos do período histórico conhecido como Ciclo do Recife. Época entre 1923 e 1931 que foram realizados na nossa região metropolitana oito filmes de “enredo” e alguns outros documentais.
A Jornada é histórica exatamente pelo teor raro de suas obras em exposição. Nas rodas de discussão cinematográfica da cidade muito se fala sobre Ciclo mas é quase mitológico o registro de alguém que tenha realmente visto estes filmes nos últimos 40 anos. Graças às edições em home-video da Funarte, tem-se disponível hoje em boas locadoras “A Filha do Advogado” (1926, de Jota Soares, que abre a Jornada hoje à noite) e “Aitaré da Práia” (1928, de Gentil Roiz, que exibe às 19h30 da quarta-feira no Cinema da Fundação). Outros títulos, pórem, só eram disponíveis à pesquisadores e cinematecas.
Foi graças inclusive, ao acervo da Cinemateca da Fundaj – criada por Fernando Spencer, o mais importante mantenedor da memória do Ciclo do Recife – que os filmes ganharam a restauração que alimenta esta Jornada. A restauração aconteceu no laborátório da Cinemateca Brasileira (SP) a partir de antigos materiais em nitrato conservados pela Fundação. Segundo os técnicos restauradores, pelo processo ‘Desmet Color’, os filmes “Veneza Americana” (1925, quinta, 19h30 na Fundaj), “Jurando Vingar” (1925, de Ary Severo, quinta, 18h30 na Fundaj) e “Grandezas de Pernambuco” (1926, de Chagas Ribeiro, terça, 19h30 na Fundaj) “poderão ser apreciados em cópias novas com as mesmas cores das viragens e tingimentos aplicadas aos nitratos originais”.
“Grandezas…” exibe junto com “Recife no Centenário da Confederação do Equador” (1924, de ) e “No Cenário da Vida” (1930, de Luiz Maranhão e Jota Soares). Os dois primeiros formam um bloco documental raríssimo, trazendo imagens da década de 1920 do cais do porto, prédios e ruas do centro e dos bairros, do Mercado São José, avenida Beira-Mar, do Jockey Club, do Mercado da Madalena, da Câmara dos Deputados, do Ginásio Pernambucano e das escolas Normal e Ulysses Pernambucano, além do Matadouro de Peixinhos e vistas de ruas em Olinda e banhos de mar. Já “No Cenário da Vida”, temos um fragmento de 10 minutos mostrando um romance ficcionado com locações no Clube Pernambucano e em Fernando de Noronha.
PERFORMANCE
Além da possibilitar olhar para nosso passado com imagens em movimento, a Jornada oferece uma experiência singular: a de assistir os filmes mudos com músicos conduzindo a trilha sonora ao vivo, seja no formato acústico ou com instrumentos eletrônicos. Hoje à noite, quem musica “A Filha do Advogado” é o pianista Marco Caneca. Amanhã, entra em cena André Freitas. Para “Aitaré da Práia” na quarta, ouviremos Muniz do Arrasta-pé e Naércio do Acordeon, com a direção do compositor Lívio Tragtenberg. Quinta-feira encerra com a música de Loop B e Pedro Osmar para “Jurando Vingar” e Alex Mono e Pi.R para “Veneza Americana”.
Três mesas redondas vão movimentar a Jornada após as projeções, sempre às 20h30.Amanhã o foco é o Ciclo do Recife com Alexandre Figueirôa, Luciana Corrêa de Araújo, Paulo Cunha (que lança hoje à noite o livro “Relembrando o Cinema Pernambucano”) e Fernando Spencer, sob a coordenação de Rita de Cássia de Araújo, da Fundaj. Quarta-feira o tema é “Preservação de acervos cinematográficos”, com Carlos Roberto de Souza (coordenador da Jornada), Patrícia De Filippi (restauradora da Cinemateca Brasileira) e o pernambucano Lula Cardoso Ayres Filho mediadas por André Gil, técnico da Fundaj. A evento fecha na quinta com Luis Antônio Carrilho (da ABD-PE), João Vieira Jr (da REC Produtores Associados) e Paulo Caldas debatendo a contemporânea produção pernambucana.
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PROGRAMAÇÃO
HOJE
Teatro Santa Isabel (para convidados)
20h – A Filha do Advogado (92 min) – Exibição em DVCam
Trilha sonora – pianista Marco Caneca
Lançamento do livro Relembrando o Cinema Pernambucano, de Paulo Cunha
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AMANHÂ
Cinema da Fundação
19h30 – Aitaré da Praia (62 min, 35mm)
Trilha sonora – Muniz do Arrasta-pé e Naércio do Acordeon, com a direção do compositor Lívio Tragtenberg, criador da Orquestra das Ruas de São Paulo
20h30 – mesa-redonda – Ciclo do Recife
Homenagem ao cineasta Fernando Spencer
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QUARTA-FEIRA
Cinema da Fundação
19h30 – Grandezas de Pernambuco (30min, 35mm)
Recife no Centenário da Confederação do Equador (10 min, 35mm)
No Cenário da Vida (10 min, 35mm)
Trilha sonora – André Freitas
20h30 – mesa-redonda – Preservação de acervos cinematográficos
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QUINTA-FEIRA
Cinema da Fundação
18h30 – Jurando Vingar (52 min, 35mm)
Trilha sonora – Loop B e Pedro Osmar
19h30 – Veneza Americana (61min, 35mm)
Trilha sonora – Alex Mono e Pi.R
20h30 – debate – Cinema Pernambucano Contemporâneo
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