40º Festival de Brasília (2007, noite 2)
Uma noite pelo lado B do Recife
Por Luiz Joaquim | 22.11.2007 (quinta-feira)
A mostra competitiva do 40º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deu partida ontem à noite com a estréia de Daniel Bandeira em um longa-metragem. A projeção de “Amigos de Risco” (2007) fecha um ciclo iniciado há anos pela produtora Símio Filmes e parceiros. Ciclo percorrido com esforço extremo para a realização deste projeto carinhosamente identificado como ADR no meio cinematográfico local e originalmente criado para ser um curta-metragem.
Para a imprensa nacional, Bandeira era a grande incógnita deste festival, onde concorre ao lado de nomes como Carlos Reinchebach, Júlio Bressane e Laíz Bodanzky, só para citar três grandes. Por competência e talento, o diretor pernambucano de apenas 28 anos não decepcionou. Muito pelo contrário, deu de presente à platéia privilegiada do Cine Brasília, numa primeiríssima exibição, ainda com a cópia ‘zero’ do filme, uma obra em absoluta sintonia com uma linguagem moderna, sem soar ‘modernosa’. Em sintonia com ritmo de edição, correto ‘timing’ para a ação e bela dramatização cinematográfica.
“ADR” tem potencial para agradar em qualquer tempo, lugar e idioma. Isso por conta de uma combinação bem equilazada na mise-en-scène, com destaque para a sintonia na interpretação naturalista dos três atores que formam os amigos de risco do título. Eles vivem Nelson (Paulo Dias), Benito (Rodrigo Riszla, de “O Céu de Suely”) e Joca (Irandhir Santos, de “Baixio das Bestas” e do televisivo “A Pedra do Reino”). Irandhir já figura aqui como fortíssimo candidato a melhor ator no Festival.
O argumento é simples e eficiente. Joca volta ao Recife dois anos após ter fugido para o Rio de Janeiro. Logo na primeira noite, chama o garçom Nelson e o funcionário de uma gráfica, Benito, amigos de outrora, para uma noitada e para tratar de negócios. Um acidente faz com um deles fique desacordado, obrigando os outros dois a levá-lo à pé atravessando a nada segura madrugada pelos subúrbios do Recife.
Nesse sentido, ADR é de uma honestidade comovente, principalmente se os olhos do espectador for os de um recifense. Sotaque autêntico, gírias contemporâneas, e a fotografia sem firulas de Pedro Sotero de um Recife que não aparece na publicidade dão à obra um valor por si só legítimo como documento de um tempo. Apesar de extrema fidelidade a um tom urbano regional, o drama que une os três amigos é universal, tornando a obra envolvente e excitante para qualquer que seja a perspectiva étnica
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