40º Festival de Brasília (noites 4, 5 e 6)
Carlão, Bodansky e Bressane mostram para que vieram
Por Luiz Joaquim | 26.11.2007 (segunda-feira)
Brasília (DF) – A diversdade de propostas esteticas e tematicas marcou o fim de semana no Festival de Brasilia. Do jogo intelectual de “Cleopatra”, de Julio Bressane, ao apelo popular “Chega de Saudade”, de Lais Bodansky, os filmes tem em comum a forte influencia da musica sobre suas tramas e a presenca de atores globais no elenco, com efeitos diferentes. Por sinal, este ultimo se tornou o favorito da mostra competitiva, tanto pelo dominio do metier da diretora quanto pela completa adesao dos espectadores a seu projeto de cinema comercial brasileiro. O filme se passa em uma unica noite, num salao de baile com publico de terceira idade. O ponto forte do filme e de seu elenco estrelado e tratar com leveza, em suas historias cruzadas, as pequenas alegrias e decepcoes que podem sair desse microcosmo.
“Falsa Loura” (foto), de Carlos Reichenbach, foi exibido no sabado e tambem conquistou a simpatia do publico ao desfiar os traumas de uma bela operaria. A maior qualidade do filme e a sua ousadia em transitar entre o classico e o brega, transformando os cliches em uma vantagem para o filme. O exemplo emblematico dessa postura de Reichenbach e a interpretacao de Mauricio Mattar, que subverte sua propria imagem de ator limitado e cantor romantico a servico da historia. O filme tambem serviu para confirmar o aparecimento de uma nova musa no cinema brasileiro: Rosane Mulholland. Com um papel apagado na atual novela das 7, a atriz brilha como Silmara, trazendo dignidade e complexidade a sua personagem, que comeca o filme com uma “casca” de empafia e sai dele fragil.
Veterano em Brasilia, Julio Bressane pediu paciencia ao publico para a fruicao de seu novo filme, na sexta-feira. Com uma proposta fiel ao cinema sem concessoes do diretor, a producao e uma alegoria sobre a representacao de Cleopatra atraves dos seculos. Bressane se diz espantado com a falta de referencias a ranha egipcia na lingua portuguesa e assume para si essa tarefa, desprezando a narrativa convencional do cinema e desconstruindo calculadamente a imagem dos atores globais que participam da producao (Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia). Segundo ele, essa pulsao se deve a esterlizacao da dimensao artistica no cinema braslieiro. Cabe ao espectador decidir se esta disposto ou nao a entrar na roda-viva de signos e referencias proposto pelo diteror.
CURTAS PERNAMBUCANOS – A sexta e o sabado viram a exibicao dos dois filmes pernambucanos restantes: o curta em 35mm “O Presidente dos Estados Unidos”, de Camilo Cavalcante e o documentario em 16mm “Nacao Mulambo”. A adaptacao do conto homonimo de Ignacio de Loyola Brandao agradou o publico brasiliense ao transpor para o bairro de Curado IV a relacao conflituosa entre um homem que julga ser o personagem do titulo e sua esposa. Segundo o diretor, a intencao era fazer a analogia entre a guerra e um casal cujo relacionamento esta desmoronando por meio da linguagem das sitcoms. Ja o “Nacao Mulambo”, que mostra de forma bastante convencional a resistencia cultural dos bairros de Peixinhos e Chao de Estrelas, sofreu com a projecao precaria.
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