Bee-Movie – A História de Uma Abelha
Abelha em vôo raso
Por Luiz Joaquim | 06.12.2007 (quinta-feira)
Duas questões devem ser levadas em conta ao avaliar a animação “Bee-Movie – A História de Uma Abelha” (EUA, 2007) da dupla Simon J Smith e Steve Hickner. Uma está na figura do aclamado e amado comediante norte-americano Jerry Seinfeld, que aqui dá voz à abelinha protagonista Barry na versão original (no Recife só teremos cópias dubladas), além de colaborar também como co-roteirista. A outra questão reside no fato que o mote e o humor do filme se firma na idéia tão fortemente defendida pelos ianques de um mundo “politicamente correto”.
Seinfeld, há quase uma década fora do ar mas ainda nutrindo respeito pelo sucesso do sitcom que levava sem nome, criou a figura de um comediante stand-up que ora se espantava ora contribuía com as neuroses do universo nervoso e paranóico de Nova Iorque. Assim sendo, uma fatia grande de suas piadas falava sobre os loucos e seus problemas modados pelo absurdo que o mundo automatizado produz, assim como as próprias idiossincrasias desse universo urbano. Em outras palavras, o politicamente correto era motivo de piada para Seinfeld.
Quando o protagonista de um animação recebe um astro para assumir sua voz, esse personagem animado ganha imediatamente o perfil deste astro. Quando Woody Allen fez a voz de ‘Z’, o inseto principal em “Forminguinhaz” (1998) era a Allen que enxergávamos no desenho. A ação não é uma coincidência, é uma estratégia para levar aos cinemas os fãs deste astro.
No caso de “Bee-Movie”, apesar de termos uma abelha Barry crítica da sociedade, ou melhor, da colmeia em que vive, são raras as alfinetadas ácidas dignas que um Seinfeld soltaria. É claro que estamos falando de uma animação e as crianças são espectadores potenciais aqui, mas não há impedimento para o humor ser mais frouxo, dessamarrado e livre de valores “politicamente corretos”. Na realidade, há um impedimento sim, e está intrínseco no próprio enredo.
Tudo começa quando Barry sai da colméia e descobre que os humanos exploram as abelhas, obrigando-as a fabricar mel para daí comercializá-lo. Abelhas são escravas, e Hollywood quer vender que isso é inadimissível, mesmo com as abelhas. Com o dom da palavra e amigo de uma florista humana, Barry resolve processar a humanidade contra essa exploração. Parece educativo e é assim que soa, daí o problema. Quanto mais discreto em seu discurso sobre valores morais, melhor efeito o filme obtém. Não acontece com “Bee-Movie”, que grita, ou melhor zumbe, quando deveria sussurrar para fazer rir.
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