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Fora de Órbita

O humor elegante

Por Luiz Joaquim | 26.12.2007 (quarta-feira)

Está nas livrarias a primeira antologia de humor, desde 1980, escrita pelo cineasta, dramaturgo, músico, ator, escritor Woody Allen. “Fora do Órbita” (Ed. Agir, 214p, R$ 34,90) traz 18 contos pelos quais este gênio da graça e da reflexão sobre o homem moderno nos diverte há quase 40 anos. Quem já leu “Que Loucura!”, “Sem Plumas” e “Cuca Fundida” (livros anteriores de Allen, hoje relançados no mercado brasileiro pela L&PM), ou mesmo quem costuma acompanhar sua produção cinematográfica – são cerca de 40 filmes no currículo – sabe o que esperar de “Fora de Órbita”. E a espera é mais do que bem recompensada.

Há um refinamento na escrita de Allen para fazer rir que não se encontra fácil na literatura deste gênero. Os textos, resultado da reunião de publicações durante anos em periódicos como o The New York Times (NYT) e a The NewYorker, formam uma leitura que surpreende a cada informação aloprada que recebemos do universo criado pelo autor.

Não é uma leitura para neurônios exigentes, mas é certamente uma leitura que terá melhor fruição para aqueles íntimos da alta cultura e, ao mesmo tempo, que também transitem confortavelmente no cenário do absurdo. O texto “Assim Comia Zaratustra” é um ótimo exemplo disso. Lá, Allen conta excitado sobre “a descoberta de uma obra desconhecida de um grande pensador para deixar a comunidade intelectual alvoroçada…”, e continua: “Quem poderia imaginar que existia um ‘Livro de Dieta de Friedrich Nietzche’?” e “a maior parte dos que estudaram a obra concorda que nenhum outro pensador ocidental chegou tão perto de conciliar Platão com o Dr. Atkins”.

O tradutor Rubens Figueiredo teve um trabalhão (bem realizado) aqui. A começar pelo nome dos personagens batizados por Allen. Nomes que remetem mais a um apelido de identificação imediata a personalidade deles. É o caso de Max Endorfina, Chupeta Fraldão, Flanders Minhocanders, Josh Cabeça-de-Vento, Moribundman, Jasper Polpadura, Mosquito Louis ou Plêiades LuaEstrela, “nome que me causaria uma consternação infinita caso me dissessem no último instante que pertencia ao meu cirurgião cerebral ou ao meu piloto”, goza o autor de sua própria cria.

Estas “vítimas” de Allen estão sempre testemunhando o absurdo ao seu redor, ou são eles próprios o motivo da piada. Em “Resgate à Moda Indiana” por exemplo, Allen parte de uma notícia no NYT sobre o criminoso Veerappan, no sul da Índia, que seqüestrou um astro de 72 anos do cinema de lá. O humorista cria então o seqüestro, por engano de um dublê de iluminação. Aquele cara que fica parado por horas no lugar do protagonista só para o fotógrafo medir a luz da cena. Quando Veerappan descobre o engano, é implacável com seus capangas sobre o seqüestrado trocado: “Não conseguem perceber que ele não tem carisma. Esse trombone empenado é o tipo que dirige um táxi ou trabalha em telemarking, enquanto espera por aquele grande chance que nunca aparece”.

Há ainda mais piadas incisivas em “Erra É Humano, Flutuar É Divino”, onde um sujeito aprende a levitar e se dá bem com a mulheres; ou em “Quero uma Roupa que não Fede nem Cheira”, para falar da visita de um homem comum a uma fábrica de roupas com aromas e apetrechos high-tech. Allen descreve o vendedor, Chupeta Fraldão, como um “louva-a-deus em roupas de gabardine”, que esquadrinha o cliente “como seu fosse uma cultura de bactérias numa placa de Petri”.

Quem, depois de tanta inspiração cômica, não se satisfizer com “Fora de Órbita” pode ainda se deliciar com “Adultérios” (L&PM), também de Allen, que reúne três peças feitas pelo pequeno neurótico, e tendo Nova Iorque como cenário.

SERVIÇO
Fora de Órbita
Editora Agir
214 págs.
R$ 34,90

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