Meu Nome não É Johnny
Johnny: o aspone junkie
Por Luiz Joaquim | 28.12.2007 (sexta-feira)
É bastante reducionista começar a escrever sobre “Meu Nome não É Johnny” (Brasil, 2008), em pré-lançamento nos cinemas terça-feira (primeiro de janeiro), dizendo que ao confeccionar aqui a forma de João Estrella, o ator Selton Mello, seu interprete na tela, mixou um coquetel de suas conhecidas expressões histriônicas, marcada pelo diálogo rápida com respostas de efeito na ponta da língua. Mas, infelizmente, é isto o que fica de marcante, finda a sessão do filme de Mauro Lima (de “Tainá 2”).
A atuação de Mello funciona como um estribilho musical, só que não combina com a canção em questão. Remete a outras “canções” mais apropriadas, como “Lisbela e O Prisioneiro”, ou às série “Caramuru – A Invenção do Brasil” e “Os Aspones”, mas não para contar o trajeto de Estrella, um rapaz classe média da zona sul carioca que nos anos 1980 se tornou no nome forte do tráfico de drogas.
É claro que Mello é bom ator, e já deu boas provas disso – vide “Lavoura Arcaica” para começar -, e é evidente que o problema em “Meu Nome não É Johnny” não se resume à sua performance. À propósito de sua interpretação vale ressaltar que aqui, um dos poucos momentos marcantes está no de sua confissão no tribunal – quando diz a frase que dá título ao filme e fala como uma pessoa normal e arrependida pelas faltas cometidas na vida.
A fotografia do austríaco Uli Burtin, naturalizado brasileiro, também dá sinais de beleza – como o belo travelling que sintetiza a morte do pai de Estrella (Giulio Lopes) – mas, de um modo mais constante durante a maior parte do filme, apresenta um universo quase irreconhecível, de um tom longe do que vemos de um Rio como o sabemos (ou sabíamos). É o mesmo caso do esforço na direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto – filme transcorre entre anos 1960 e 1990. Há nela, na arte, um trabalho de assepsia na representação das drogas, ou no período em que Estrella passou no presídio, que é de um padrão estético, digamos, “classificação 14 anos”.
A trilha sonora do próprio Mauro Lima em parceria com Fábio e Rafael Mondego e o pianista Marco Tommaso também parece empurrar mais para baixo o que o conjunto dos aspectos técnicos já dá de forma reduzida e sem inspiração.
A falta de inspiração acaba sendo preenchida por excessos nas locações no exterior – em Barcelona e Veneza (por onde Estrella traficou), com particular demora na cidade italiana. A longa extensão das cenas em Veneza é inversamente proporcional a sua importância no enredo. Lá sabemos, no máximo, que a namorada de Estrella (Cléo Pires) é ciumenta. As imagens em abundância, quase um clipe dentro do filme, servem mais para relembrar que Veneza é linda mesmo, principalmente para quem faz cinema brasileiro.
Soterrado por todos estes excessos, o drama de Estrella fica reduzido e ofuscado por aspectos menores, como o susto ao ver a participação de André di Biasi, o eterno menino do Rio, que outrora vendia a imagem da saúde e beleza carioca, surgindo agora como um fantasma, com gordura e careca real, e numa cadeira de rodas cenográfica.
Soterrado por situações cômicas, o drama “Meu Nome não É Johnny” acaba sendo uma história bem divertida sobre uma experiência bem pauleira de vida. À propósito, Estrella é hoje produtor musical de gente como Ivo Meireles e Funk’n’Lata, além de estar preparando o seu primeiro disco solo.
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