11ª Mostra de Cinema de Tiradentes (2008)
Crítico, o filme, de Kleber Mendonça Filho, é aclamado em Tiradentes
Por Luiz Joaquim | 23.01.2008 (quarta-feira)
TIRADENTES (MG) – O quarto dia da 11ª Mostra de Cinema de Tiradentes deu espaço ao primeiro longa-metragem pernambucano da programação, após a exibição dos curtas locais “Ocidente”, de Leonardo Sette, e “Décimo Segundo”, de Leonardo Lacca. O longa documentário “Crítico”, do realizador e crítico de cinema Kleber Mendonça Filho, estreou com uma acolhida calorosa do público ao fim da exibição na terça à noite. A obra toca num assunto de pouco apelo (à primeira vista) junto ao público não-cinéfilo: a relação tensa e complexa entre realizadores e críticos de cinema.
Nos últimos oito anos, Kleber coletou depoimentos destes personagens em festivais do Brasil e exterior. Em vez de contextualizações didáticas sobre a história da crítica ou uma tentativa de esgotar o assunto em um registro definitivo, o filme privilegia o aspecto humano que pode vir das experiências e das impressões pessoais. Walter Salles ou Fernando Meirelles, por exemplo, estão lá menos por terem relativo sucesso e popularidade e mais pelo que tinham a contribuir com uma discussão.
Sentimentos como amor, mágoa, aceitação e rejeição guiam, da mesma forma, personagens que foram acostumados a se ver em campos opostos. “Em muitos documentários, vejo uma tendência em ridicularizar os personagens, coloca-los em uma situação difícil. Por mais que alguns dos entrevistados não se encaixem em minha forma de ver o cinema, achei importante colocar suas opiniões de forma respeitosa”, frisou Kleber, durante o debate.
As imagens usadas para amenizar a aridez da captação das entrevistas foram usadas de forma especialmente feliz pelo diretor, que trabalhou junto com a esposa, Emilie Lesclaux. Ao lado de registros feitos no calor da hora em momentos-chave de festivais, há trechos de filmes antigos (de domínio público) e recentes que funcionam para ilustrar a tensão no que é dito pelos entrevistados. As imagens transformam-se, então, em metáforas para se entender a complexidade das relações humanas.
O resultado é uma obra criativa, ágil, que transmite ao espectador sua curiosidade e recusa em enquadrar o cinema em um círculo de “entendidos”, mas exige de volta interesse em apostar no conflito. Amanhã, a Mostra de Tiradentes exibe outro longa-metragem pernambucano: “Amigos de Risco”, de Daniel Bandeira.
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