O trailer de “Antes de Partir” (The Bucket List, EUA, 2007) anunciava uma bobagem. Jack Nicholson e Morgam Freeman vivendo como dois velhos com cancer que se conhecem no hospital e se descobrem com poucos meses de vida. Decidem então, com o dinheiro do primeiro que é um bilionário e dono do hospital que o trata, dar a volta ao mundo fazendo extravagâncias anotadas numa lista (a “lista da bota” do título original) para fazer antes de “baterem as botas”.

Acontece que este filme de Rob Reiner o traz de volta a boa forma, dos tempos em que falava de amizade como em “Stand By Me” (1986). Para quem espera logo ver as paisagens do Egito, França e China, entre outro países pelos quais passeiam os dois protagonistas é preciso saber que Reiner concentra quase metade do filme num quarto de hospital onde os dois entendem os defeitos e qualidades de um e do outro para daí selar a amizade.

“Antes de Partir” é essencialmente um filme sobre amizade mas, principalmente, sobre ajustes de contas com a própria vida, usando as paisagens lindas do planeta para que um sentimento mais nobre brote no bonachão vivido por Nicholson e no reto e dedicado de Freeman.

Nesse processo, como há a expectativa constante da morte em jogo, há um jogo implícito com o público, que deverá se sentir melhor, após algumas lágrimas, no que diz respeito à despedida de pessoas amadas para a morte.

Um filme como “Antes de Partir” faz pensar no destino de atores veteranos em Hollywood. Ver Nicholson, que já foi um “Easy Rider” no fim dos anos 1960, é no mínio para ser refletir sobre a passagem do tempo, implacável mesmo para os astros da América. Faz pensar também no quão difícil é ver atores idosos no Brasil fazendo papéis dignos à sua altura e adequadas à sua realidade de vida. Para um “Antes de Partir”, temos no Brasil um “Copacabana”, de Carla Camurati. Uma pena.