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Críticas

A Casa de Alice

Retrato cru da familia suburbana

Por Luiz Joaquim | 28.03.2008 (sexta-feira)

Não dá pra contabilizar o número de dramas familiares (tragédias, por que não?) que residem nas casas suburbanas deste país. O cinema, como documento de uma época, deveria, num bom sentido, se aproveitar para retratar, ou utilizar a carga dramática aí contida e daí criar obras de arte. No contemporâneo cinema brasileiro, entretanto, exemplos assim são peças raras. “A Casa de Alice” (Brasil, 2008) – em cartaz no Rosa e Silva – chega com impressionante força temática e estilística para abrir alas nesse quesito.

Premiado nos festivais de Havana, México, Chicago, e tendo passado pela seleção de Berlim 2007, este filme de Chico Teixeira (seu primeiro longa de ficção), radiografa de maneira crua e quase constrangedora a rotina da família da manicure
Alice (Carla Ribas, em interpretação inspirada).

Com cerca de 40 anos, Alice divide o tempo entre o trabalho, onde maquia não só a mão das clientes com esmalte mas também a realidade de sua vida durante as conversas de salão de beleza, e a sua casa, na periferia de São Paulo. Na realidade, casa de sua mãe, Dona Jacira (Berta Zemel), uma velha tratada como um eletrodoméstico e hostilizada pelo genro Lindomar (José Carlos Machado), retrato fiel do cafajeste com relações extraconjugais irresponsáveis. Há ainda a presença opressiva dos três filhos homens do casal: o mais velho Lucas (Vinícius Zinn), Edinho (Ricardo Vilaça) e o caçula (Felipe Massuia) para quem Teixeira ainda encontra espaço rascunhar um paixão adolescente com uma garota da vizinhança.

É, a propósito, na capacidade de Teixeira, autor do roteiro também, em compor personagens com elementos de economia franciscana que reside sua competência. Enquanto que, apenas pela postura romântica do caçula, podemos ter uma boa dica de seu perfil, também temos pequenos exemplos morais de Lucas (um machista violento e aparentemente misógino), e Edinho (com segredos que escondem seus furtos) definindo-os ou, pelos menos, alimentando bem o espectador sobre a desarmonia daquela família.

No meio desse turbilhão de emoções contidas e, eclodindo em momento crucial do filme, temos Alice, o epicentro da família, para onde converge a cobrança de todos. Suportando um peso maior do que consegue carregar, Alice tenta se equilibrar entre manter a mediocridade da família falida, mas reunida, e o sonho de realizar os anseios de qualquer ser-humano, o de ser desejada e querida. Uma heroína, como qualquer suburbana brasileira.

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