Hay que cinematografar!
Pernambucanos contam experiência de estudar cinema em Cuba
Por Luiz Joaquim | 31.03.2008 (segunda-feira)
Não é de hoje que Pernambuco carece de uma escola de cinema à altura do talento da sua população que escolheu este ofício como profissão. Por bastante tempo, e ainda hoje, uma das possibilidades de realizar um curso cinematográfico completo e de referência era/é em Cuba, mais precisamente na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV). Situada há cerca de 50 quilômetros de Havana, a instituição, que está com inscrições abertas para formação de novas turmas (veja matéria abaixo)agregra um verdadeiro celeiro de talentos para toda a américa-latina.
Inaugurada em 1986 com a benção e coordenação do lendário cineasta argentino Fernando Birri, a Escuela é afamada não só pelos nomes que formam seu corpo docente, mas como pelos professores convidados de todo o mundo e a vasta filmoteca e biblioteca de cinema oriunda de todos os países latinos. Isso sem entrar no mérito da qualidade da formação, propriamente dita, dos profissionais pelo curso regular.
A cineasta Adelina Pontual, que foi da segunda turma da EICTV, esteve lá entre 1988 e 1991. Ela conta que nos primeiros seis meses são realizadas aulas, que podem ser eliminatórias, sobre conhecimentos básicos da área. “Depois desse período, fazíamos exercícios polivalentes por um ano. No ano seguinte, caminhavámos para desenvolver trabalhos na área que tínhamos interesse e no último ano, fazíamos a especialização propriamente”, conta a diretora de “Véio” e outros curtas-metragens que formou-se na Escuela como montadora, dando-lhe o gabarito que lhe rendeu prestígio para trabalhar em grande produções nacionais como “Carandiru”, de Hector Babenco, sendo continuísta.
“Naquela época, eu tinha terminado de participar do curta-metragem “Henrique”, de Cláudio Assis, e queria fazer um mestrado em cinema na Universidade de Brasília. Lá, um amigo me disse que estavam abertas inscrições para a EICTV e isso incluía uma bolsa de estudos para três alunos brasileiros. Fui contemplada e a experiência definiu o cinema que me interessa hoje, além de ter me dado ferramentas até para continuar a aprendendo”, recorda Adelina
“Era um processo de imersão completo. Apesar de não ficar tão distante de Havana, a escola funcionava como uma espécie de internato. Quando não tínhamos aula, estávamos sempre assistindo filmes”, diz Adelina. que voltou a Cuba em 2005/2006, desta vez como professora para uma oficina sobre continuidade e assistência de direção.
Das amizades geradas na época de estudante, Adelina ainda mantém contato com os brasileiros, como a fotógrafa paraibana Jane Malaquias, e o cinesta soteropolitano e diretor do festival CineCeará, Wolney Oliveira, ambos da turma inaugural da instituição.
Em 1996, Camilo Cavalcanti já havia realizado no Recife experiências em vídeo e outros formatos que já chamavam a atenção pela delicadeza. Foi nesse ano, ao ouvir o depoimentos de colegas da área, que resolveu passar por uma oficina de roteiro na ilha de Fidel. “Para mim, a oficina nem foi tão interessante assim. Estudava com um professor norte-americano, mas estar lá abriu meus olhos para um cinematografia latino-americana com a qual nunca tinha tido contato. Via cinco filmes por dia, entre eles, obras da Venezuela, Bolívia e de outros países menos conhecidos”, conta Camilo, que chegou a fazer o teste para o curso regular em 1997. “Não existia mais a bolsa e eu não tinha grana para bancar. Acho que naquela época a Escuela estava no áuge e eu não tenho tinha dúvidas que ali era um lugar interessante para desdobrar não só a prática de fazer cinema, mas também sua teoria”, salienta.
Outro realizador pernambucano, Leo Sette (cujo curta “Ocidente” será exibido no 18° CineCeará), buscou no “internato” da EICTV o refúgio para apurar a função de fotógrafo cinematográfico. “Eu ia prestar o exame para o curso regular em 1999, mas sofri um acidente e não consegui. Fiz a oficina com o franco-belga Renato Berta, que já trabalhou com gente como Alan Resnais, Amos Gitai, Manoel de Oliveira”. A experiência vivida por Sette com a cultura da Ilha o marcou de modo que o fez voltar depois para registrar imagens de Havana com objetivo de montar um documentário sobre a cultura local. “Ainda não resolvi como utilizar as imagens, peguei depoimentos fortes e pessoais sobre o regime política e é preciso cuidado aqui”, adiantou Sette, por telefone de São Paulo na quinta-feira passada, quando, por coincidência, ia encontrar uma colega espanhola que foi de sua turma em Cuba.
Adelina e Camilo também fizeram por lá amigos dos lugares mais diversos como a Índia, Vietnã e diversos países da Africa, sem falar nos latinos-americanos. O professor e editor de suplementos desta Folha de Pernambuco, Thiago Soares, por exemplo, que esteve na Escuela em maio de 2001, fez colegas de São Tome e Príncipe e Trinidad e Tobago.”Fui fazer a oficina de roteiro e mesmo sem dominar o idioma, não tinha dificuldades para entender as aulas que eram bem objetivas e diretas”, relembra o jornalista que, na época precisou tratar da inscrição do curso em Búzios, no Rio de Janeiro. “Não havia mais bolsa e precisei bancar um custo na época de 700 dólares”, diz. Das boas lembranças, Thiago conta da facilidade de poder assistir outras oficinas sem ônus extra, e de acompanhar algumas filmagens na própria escola e na capital, Havana.
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Página 21 abre inscrições para EICTV de Cuba
O curso regular de cinema, edição 2008, para Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV) inicia no segundo semestre e não é mais necessário que os pernambucanos saíam do Estado para prestar a seleção. A produtora Página 21 (www.pagina21.com.br) é, pelo segundo ano consecutivo, o canal que liga Recife diretamente com a EICTV. Lá é possível fazer a inscrição para o exame de seleção, que já acontece nesta próxima sexta-feira, a partir das 8h na Faculdade Maurício de Nassau, rua Guilherme Pinto, 144, Graças. Além do Recife, as provras acontecem em Belo Horizonte e Florianópolis.
Podem se inscrever brasileiros entre 22 e 28 anos interessados nos cursos de documentário, som, produção, montagem, fotografia, direção e roteiro.
Os candidatos devem optar por duas destas especializações. Cada candidato responderá três provas escritas: uma prova de conhecimentos gerais e duas outras correspondentes às especializações escolhidas. Os candidatos aprovados nas provas escritas são entrevistados no dia seguinte pela comissão julgadora, que realiza uma pré-seleção indicando os melhores candidatos em cada especialização. Os nomes dos candidatos selecionados para o curso regular serão anunciados na segunda quinzena de junho.
A matrícula para os três anos tem um custo total de 12 mil euros. A matrícula é de 5 mil para o primeiro ano e 7 mil euros para o segundo ano. Os estudantes aprovados no segundo ano, terão uma bolsa integral da escola para cursar o último ano.
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