Um Amor de Tesouro
Trapalhão à americana
Por Luiz Joaquim | 20.03.2008 (quinta-feira)
Se Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumo fosse norte-americano nos dias de hoje, ele seria interpretado por Matthew McConaughey. É claro que o biotipo saradão do ator de “Sahara“, “Tudo por Dinheiro” e “Armação do Amor” não combina com o azarado com a mulheres que se configura o trapalhão brasileiro, mas a combinação de ‘leseira’ em ritmo de aventura que McConaughey mostra na nova obra “Um Amor de Tesouro” (Fool’s Gold, EUA, 2008) – em cartaz – é digna de um filme do Renato Aragão e sua trupe, nos áureos tempos, claro.
Logo na abertura, o mergulhador malhado Finn (McConaughey) está no fundo do mar, na costa da Flórida. Junto ao colega ucraniano Alfonz (Ewen Bremmer, de “Transpotting”), ele procura pistas da embarcação espanhola ‘Aurora’, afundada em 1715 recheada de tesouros da coroa da Espanha. Lá na superfície, um acidente em seu barco bagunçado o faz afundar e os dois nem o percebem caindo ao lado deles.
Mas a trapalhada, e não só essa na abertura deste filme de Andy Tennant (de “Hitch – Conselheiro Amoroso”), seria, melhor avaliando, digna de um “Os Trapalhões” se não viesse tão carregada com violência explícita. Os vilões aqui – na figura do rapper-gangster Bigg Bunny (Kevin Hart) e do explorador Moe (Ray Winstone) usam de armas de fogo pesada para resolver a questão. O próprio herói atrapalhado Finn também não hesita em usar pistolas para atirar e atingir seus algozes. Difícil imaginar nosso Didi Mocó com uma arma que funcione na mão.
Há ainda o romance, também atrapalhado, de Finn com a recém-ex-esposa Tess (Kate Hudson). Ela quer ir para Chicago fazer seu doutorado em história, o que vai contra os planos de Finn que, somado a sua irresponsabilidade, gera o divórcio. E, enquanto Tess resolve sua situação matrimonial, trabalha a bordo do iate do megamilionário Nigel (Donald Shuterland, pagando as contas) e de sua filha tapada Gemma (Alexis Dziena).
Perseguido por todos, cada um com os seu motivos, Finn vai nadar, correr e voar para realizar seu sonho e o da esposa: encontrar o ‘Aurora’. No percurso, não tem piratas, mas vem com mapas do tesouro em paraíso. Uma versão mais high-tech e violenta para nosso “O Trapalhão na Ilha do Tesouro”, feito pelo ótimo J. Tanko em 1974, ou “Simbad, O Marujo Trapalhão”, também rodado por Tanko um ano depois. O maior mérito de “Um Amor de Tesouro” é fazer querer rever esses clássicos infantis do cinema brasileiro. Uma boa notícia seria saber que a Renato Aragão Produções os relançariam no cinema.
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