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Festivais

18o CineCeará (2008) – 5a noite

Ciclo da vida no sertão cearense

Por Luiz Joaquim | 15.04.2008 (terça-feira)

FORTALEZA (CE) – Uma grande expectativa reinava na sala cheia do Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, principal auditório do 18º CineCeará, na noite de ontem (segunda-feira), antes da sessão de “O Grão”, o representate do Estado na competitiva de longas-metragens. Era a primeira exibição no Ceará desta primeira incursão na ficção (e num longa, depois de cinco curtas) do cearense Petrus Cariry. Filme chegou a Fortaleza depois de projetado em outros 15 festivais, entre estrangeiros e brasileiros.

Chegou também com o respaldo de prêmios obtidos em Bogotá (Colombia), Vila del Mar (Chile), Barcelona (Espanha) e Tiradentes (MG). Neste último, foi contemplado com um prêmio especial pela concepção cinematográfica entre o diretor e seu fotógrafo, Ivo Lopes Araújo.

No argumento e roteiro, escrito pelo veterano Rosemberg Cariry (pai de Petrus), temos uma família pobre vivendo miseravelmente, mas com altivez digna, a beira de um lago, num “sertão líquido”, como sugeriu a jornalista Maria do Rosário Caetano durante a entrevista coletiva de hoje pela manhã.

A dramaticidade é dividida em três. Um: a premente morte da avó (Leuda Bandeira) que prepara o neto para sua partida, contando-lhe uma história mítica sobre um rei que tenta ressucitar o filho. Dois: o casamento, que se aproxima, da filha mais velha. Três: a limitação financeira e sentimental entre o casal da família (Verônica Cavalcante e Nanego Lira).

Instrumentalizado com estes personagens, Petrus e Ivo experimentam observações pictóricas sobre quatro fases da vida – infância, juventude, maturidade e velhice – e seu rito de passagem. Nesse sentido, não há como negar uma identificação com outros trabalhos cearenses a partir da geografia rural local, instrisicamente interligada com os personagens humanos. A própria animação mais premiada do Estado, “Vida Maria”, de Márcio Ramos, fala dos ciclos da vida pontuado pela pobreza e seu cenário.

O assunto gera uma reflexão universal sobre a vida, e sua transitoriedade? Sim, não há dúvida, mas, como foi questionado na coletiva de hoje, é interessante perguntar quando teremos uma trabalho do Ceará que nos proporá uma reflexão univesal (mesmo sobre a vida) a partir de outras paisagens humanas e geográficas. Ou ainda, quando teremos um filme da região que use o sertão, mas sem que ele seja tão determinante, quase um personagem, do enredo.

As observações aqui não se tratam de estar cobrando um outro filme diferente de “O Grão”, pelas mãos de Petrus, mas de um filme que não nos dê a sensação de Deja Vú. E preciso registrar também que não há dúvida da beleza alcançada por Ivo na fotografia de “O Grão”, da boa equação da construção do tempo através da montagem de Petrus e Firmino Holanda, e da comunhão dos atores com seus personagens e entre si.

O “tempo dramático” tem sido elemento preponderante na competitiva de curtas também. Em “Ocidente”, do pernambucano Leo Sette, mais uma vez, temos um olhar voyeurístico sobre casais, agora num trêm. Para o resultado obtido, não nos interessa a origem das figuras (humanas ou geográficas), mas sim o processo de sua captação e as sugestões quase sem manipulação nos quatro planos montados pelo diretor.

No ajuste de seu foco, com o diafrágma acertado no automático, é a câmara de Sette que determina a interpolação entre o humano e a paisagem, sugerindo num processo livre, e eletrônico, sensações específicas para cada espectador, individualmente. Ou seja, em “Ocidente” não só Sette é o autor, mas sua câmera e o ambiente também o são, pois é ela que determina os ajustes de luz, de maneira voluntariosa, provocados pelo trêm em movimento. Numa relação livre, vem à mente as pinturas melancólicas de Edward Hopper, nas quais as sombras sugestionam sentimentos aos personagens. Em Sette, há a combinação da luz com o tempo proporcionando a mesma coisa, filtrados pela sua filmadora, claro.

Entre os curtas de ontem, ainda merece destaque o paulista “A Psicose de Valter”, de Eduardo Kishimoto, num interessante exercício entre captacão de som separado da imagem, a partir de um personagem real, o Valter do título, que estuda filosofia há 20 anos na Universidade de São Paulo e tem como ganha-pão a confecção de filmes pornô.

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