18º CineCeará (2008) – abertura
Cinema e educação em pauta no festival cearense
Por Luiz Joaquim | 09.04.2008 (quarta-feira)
Algumas posturas ao longo de seus quase 20 anos têm dado ao CineCeará – Festival Ibero-Americano de Cinema, que inicia amanhã (quinta-feira) sua 18ª edição, um perfil ativo e provocador na política audiovisual do país. Sem falar no constante interesse pela história da própria região, em particular na cultura do cangaço, e agora, atingindo a maioridade, reforçando um novo laço entre o audiovisual e a educação a partir do seminário que promove: “Nordeste, Cangaço e Cinema”, englobando 14 conferências de pesquisadores do assunto no Brasil. Você pode acompanhar toda a cobertura do CineCeará aqui pelo CinemaEscrito.
Transformado em Ibero-Americano em 2006, o CineCeará abre às 20h de hoje, no majestoso Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro (o cine São Luiz de Fortaleza), com uma homenagem aos atores Jorge Perrugoria (o cubano de “Morango e Chocolate”) e o brasileiro José Dumont, seguido pela estréia, em hor-concours, de “Elegia Friulana”, novo curta-metragem do argentino Fernando Birri, 83 anos, que é presidente de honra do festival. O veterano está no Ceará também para lançar o livro “O Alquimista Democrático”, reunindo seus textos poéticos e teóricos dos últimos 35 anos.
A competitiva também começa hoje com o longa “Nossa Vida Não Cabe Num Opala”, (RJ, 2008), de Renato Pinheiro, filme que também exibe na competição do Cine-PE, dia 3 de maio. O “Opala” de Pinheiro é baseada na peça de Mário Bortolotto, e mostra a reação de quatro irmãos da classe média baixa paulista a partir da morte do patriarca (Paulo César Pereiro) que os observa de onde está e vê o desmoronamento gradual de sua família. Também no elenco Leonardo Medeiros e Milhen Cortaz.
Com uma competição robusta, de dez longas-metragens, este ano a produção brasileira está mais presente na disputa do troféu Mucuripe. Os conterrâneos de Pinheiro no páreo é o cearense Petrus Cariry, com a ficção “O Grão”, sua estréia no formato. Já exibido, e elogiado, no último Festival de Tiradentes (MG), o longa tem como lugar a secura do sertão cearense e o seio de uma família cuja relação de uma avó moribunda com o neto vai interferir diretamente na preparação do casamento da irmã do garoto.
Os outros brasileiros na disputa são os dois craques Carlos Reichenbach, com sua “Falsa Loira” (Candango de atriz coadjuvante no Festival de Brasília para Djin Sganzerla), e Walter Lima Jr. fazendo a estréia nacional de seu “Os Desafinados”, que traz no elenco as estrelas Rodrigo Santoro e Selton Mello, além de Cláudia Abreu, Ângela Paes Mendes e Alessandra Negrini. Conta a história de um grupo musical nos anos da Bossa Nova.
Do exterior, o doc “Tambogrande”, de Ernesto Cabellos, vem do Peru, falando de um terra infértil que vira um frutífero vale de mangas e limão, até que uma jazida de ouro é ali descoberta, gerando conflitos na região. Já “Specials Circumstances”, da chilena Marianne Teleki e Héctor Salgado, volta à ditadura de Pinochet, quando o diretor Héctor Salgado tinha 16 anos e foi tortura pelos militares. Exilado aos 19 nos EUA, volta ao Chile, aos 46, para encontrar os responsáveis pelos seus atos.
A ficção “Postales de Leningrado”, de Mariana Rondo, encena o universo de duas crianças a partir dos pais, guerrilheiros da Venezuela nos anos 1960. “Las Vidas Posibles”, da Argentina, Sandra Gugliotta, apresenta uma personagem que percorre o frio deserto da Patagônia em busca do marido desaparecido.
A co-produção entre México, França e Holanda, “Luz Silêncios”, de Carlos Reygadas, apresenta um menonita casado (protestantes radicais que vieram da Europa para o norte do México no século 17), que se apaixona por outra mulher. Por fim, o espanhol “Vete de Mi”, de Victor Garcia Leon, fala da mudança radical na vida de um pacato senhor quando hospeda por poucos dias seu filho de 30 anos.
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CineCeará exibe cópia restaurada de “O Santo da Maldade Contra o Santo Guerreiro”
Pernambuco está presente na competitiva brasileira de curtas-metragens do 18° CineCeará com a mesma dobradinha feita por Leo Lacca e Leo Sette, que projetam também no Cine-PE – a partir do dia 28 – os filmes “Décimo Segundo” e “Ocidente”. Ainda do Recife, em projeção digital, o trabalho “Fiz Zum Zum e Pronto”, de Marcelo Lordello.
Os três competem com outros 16 filmes, com destaque para “Um Ramo”, de Juliana Rojas e “Sin Peso”, de Cão Guimarães. Além das mostras competitivas, o festival preparou “Olhar do Ceará”, com produções recentes em digital do Estado, a itinerante “Mostra nos Bairros”, a sessão infantil “O Primeiro Filme a Gente nunca Esquece”, e a “Mostra Melhor Idade”.
Entre as sessões especias, duas projeções são esperadas. Uma no dia 12, com a estréia da atriz Patrícia Pilar na direção, com o documentário “Waldick, Sempre no Meu Coração”, sobre os 40 anos de carreiras do intérprete de “Eu não sou cachorro, não”.
A outra traz às telas de nossa geração, em cópia restaurada, o histórico “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, filme rodado por Glauber Rocha 1969, que lhe rendeu o prêmio de melhor diretor em Cannes. Para confeccionar a nova cópia, foi preciso tomar como base uma cópia de versão sonora francesa, uma vez que o negativo original foi perdido em 1973 num incêndio num laboratório de Paris. O lançamento nacional da cópia restaurada só acontece dia 25 de abril.
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