15º Fest. de Vídeo e Cinema de Cuiabá (2008)
Sobre O Aborto dos Outros
Por Luiz Joaquim | 27.05.2008 (terça-feira)
CUIABÁ (MT) – O impacto da quarta noite do 15º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá ficou mesmo com os dois longas-metragens exibidos no Multiplex Pantanal. “O Aborto dos Outros”, de Carla Gallo e “A Via Láctea”, de Lina Chamie prenderam a atenção do público com histórias difíceis, abordadas de forma sensível. Desde a apresentação da película, a diretora deixa claro sua opinião favorável à descriminalização da prática, mas faz um filme muito humano, que passa longe da militância ou de julgamentos morais sobre a questão.
Seu trabalho é se apegar firmemente, e com simplicidade, à história de mulheres (até meninas) que, pelos mais variados motivos, optaram por interromper a gravidez. Seja por má-formação do feto ou estupro, seja pela falta de condições financeiras ou emocionais para criar um filho, o filme relembra que esse tipo de decisão nunca é fácil e os traumas vindos dessa decisão perduram para sempre. Embora, nos últimos minutos, Carla opte por usar a muleta do “discurso da autoridade”, ao usar médicos para reforçar sua opinião, ficou a força dos depoimentos e o desespero da cada uma dessas mulheres em lidar com uma situação que não podem controlar. O silêncio no fim da sessão deixou explícito o desconforto dos espectadores ao ouvir histórias que muitos preferem fingir que não existem. O segundo dá profundidade a uma simples história de amor entre um casal que passa por desentendimentos e terminam o namoro. A película se estende na tentativa de Heitor (Marco Ricca) em reverter a situação, trazendo de volta para si Júlia (Alice Braga), mas o grande obstáculo que são os problemas urbanos de São Paulo faz essa busca tomar rumos inesperados.
CURTAS-METRAGENS – A noite começou com a Mostra Centro-Oeste, idealizada para escoar a produção da região, difícil de ser vista em festivais no Brasil. Com uma noite dedicada à exibição de três curtas goianos, o único digno de nota foi “Anjo Alecrim”, de Viviane Louise, um retrato bem realizado do cantador e brincante goiano Doma da Conceição. “Elke” (RJ), de Júlia Rezende, traça um perfil de Elke Maravilha, figura midiática que dispensa apresentações. No entanto, as soluções visuais tão bem usadas para compor o mundo interior do personagem de “Anjo Alecrim” ficam em segundo plano aqui. O filme se concentra em depoimentos da própria Elke e de seu marido, Sacha, mas confia tanto na excentricidade do seu personagem que tem preguiça de criar algo além da figura da entrevistada. Completaram a programação o falso documentário “Satori Uso” (PR), de Rodrigo Grota e a ficção “Saliva”, de Esmir Filho, exibidos no Cine PE deste ano.
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