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Críticas

Angel

No mundo dos anjos

Por Luiz Joaquim | 09.05.2008 (sexta-feira)

A palavra resumitiva para o que o diretor francês François Ozon propõe em “Angel” (Ing., Fra., Bel., 2007), que entra em cartaz hoje no Cine Rosa e Silva, é ‘coragem’. O mínimo que se pode dizer de Ozon é que ele foi audacioso quando decidiu nos mostrar a história de Angel (a linda Romola Garai, de “Scoop: O Grande Furo”) pela ótica da própria personagem.

Isso porque ela é uma jovem interiorana na Inglaterra do final do século 19. Uma ingênua, mas determinada a ser uma escritora famosa. Dona de uma imaginação frutífera, Angel vomita histórias melodramáticas e floridas como quem respira. É consciente e convicta de seu talento, e age de forma arrogante sem aliviar no maltrato com quem se mostra provinciano. Na realidade, ela é dura com aqueles que tentam trazer um pouco da realidade do mundo para dentro do seu universo particular de conto de fadas.

Angel é um personagem espetacular, e muito bem defendido por Garai. Apesar de sua aparente futilidade, ela não é estúpida, ao contrário, tem uma sagacidade aguçada e consegue tudo que deseja, mas só enxerga o que quer enxergar. E isso significa perfeição e beleza pueril em tudo e particularmente no amor. São estes os mesmo ingrediente fartos com os quais ela recheia seus romances, e que os tornam best-sellers instantaneos, transformando-a numa celebridade milionária, a ponto de permiti-la comprar a “casa do paraíso” (atenção para este nome), uma mansão que ela adorava na infância, e onde sua tia havia sido uma criada.

Sem aviso prévio, ou qualquer manual de instrução, Ozon nos imerge com este filme dentro desse universo que é o da cabeça de Angel. Seja pela trilha sonora grandiloquente, seja pelo figurino constantemente exuberante, seja na fotografia (que brinca com um efeito chroma key anacrônico e romântico), ou seja na barroca direção de arte… É enfim, um exagero em todos os aspectos, e coerente nisso tudo. É nesse tom que seguimos por mais da metade do filme. É o mundo que Angel construiu para ela sem quase nenhuma interferência das adversidades da vida.

A coragem de Ozon está exatamente em arriscar sua carreira num trabalho de estética assumidamente over, sugerindo leituras naturalmente apressadas por parte público que pode achar tudo bobo e medíocre logo nos primeiros 30 minutos.

Aos mais pacientes, será dada a chance de perceber que ali está apenas um lado da moeda da vida da escritora. O outro está escondido por uma sombra que apenas ameaça aparecer sob a forma de seu marido Esmé (Michael Fassbender), sua secretária Nora (Lucy Russell), seu editor Théo (Sam Neill) e a esposa deste (Charlotte Rampling).

A certa altura, Ozon confronta Angel com a brutalidade da 1ª Guerra Mundial, e tudo muda quando ela, pela primeira vez, precisa dobrar-se a uma realidade que não pode evitar. A trama ainda abre espaço para uma reflexão sobre o que há de passageiro e eterno na confecção de uma obra. O contraponto são as pinturas impressionistas de seu marido, indo numa direção diametralmente oposta às cores com as quais Angel pintava seu mundo.

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