Zona do Crime
Bonito por fora, podre por dentro
Por Luiz Joaquim | 14.05.2008 (quarta-feira)
A primeira observação sobre “Zona do Crime” (La Zona, Méx., 2007), filme de Rodrigo Plá, é a de que estamos diante de um filme que poderia ter sido feito em qualquer país latino-americano. Isso porque reflete uma perturbadora situação social cujo contraste entre ricos e pobres, cada vez mais geograficamente próximos, aparece como uma bomba cujo pavio está no limite da detonação.
A segunda observação diz respeito a uma fúria latente na classe média e alta que é semi-controlada pela lei, mas que não precisa muito para sair da latencia e transformar-se em brutalidade física concreta.
“Zona do Crime” assusta exatamente pela psicologia violenta de sua trama ser muito possível e próxima de nossa realidade, a daqui mesmo, de qualquer bairro recifense. O “La Zona”, do título original é o nome de um autônomo condomínio de luxo, quase um bairro, cercado por muro eletrificado, cheio de palacetes e suposta tranqüilidade vigiada por segurança particular 24 horas. Dezenas de câmeras observam toda a movimentação de La Zona, que se encontra a um muro de distância de uma gigantesca favela. A seqüência de abertura do filme já deixa arrepio, quando, com apenas um movimento de câmera, é desenhado os dois mundos tão distintos.
O conflito vem quando um outdoor no lado do “inferno” desaba no muro que dá acesso ao “paraíso”. Usando-o como ponte, três jovens passam para o outro lado para roubar uma casa. O saldo deixa uma moradora morta e dois dos ladrões assassinados. O mais jovem, de apenas 16 anos, escapa e vira objeto de caça dos moradores do condomínio. Quase todos estão famintos por vingança e usam a bandeira do “é melhor para o coletivo” como argumento para justificar a caça ao invasor e fazer justiça ao modo deles, tentando excluir qualquer tipo de interferência da polícia (aqui corrupta) ou instituição legal.
O filme salienta apenas a ponta de um iceberg social medonho. Nos dá a dimensão do quanto há de inconformidade com a insegurança e o desejo de resolver tudo pelo meio mais rápido (e ilegal) em função da descredibilidade generalizada na desgastada polícia e justiça. O resultado é a desvirtuação de qualquer princípio humano, gerando um ciclo vicioso no qual os filhos perpetuam os pais nesse tido moderno de barbárie sangrenta. “Zona do Crime” é um filme de terror social, talvez o mais assustador dos terrores.
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