3° CineOP (2008) – seminário
A inventividade nos anos 1960
Por Luiz Joaquim | 16.06.2008 (segunda-feira)
OURO PRETO (MG) – Dentro da proposta de reflexão sobre a produção cinematográfica brasileira nos anos 1960 e seu legado, o 3° Cine-OP gerou dois seminários no domingo. Pela manhã, “Glauber e Sganzerla: Inventividade nos anos 1960”, configurou-se com a mais produtiva e reveladora conversa sobre o tema desde muito tempo.
O mérito está nos nomes que compuseram a mesa. A começar por Helena Ignez, ex-esposa de Glauber Rocha que a dirigiu no curta “Pátio” (1959) e, posteriormente, viúva de Sganzerla que a dirigiu em “O Bandido da Luz Vermelha” e “A Mulher de Todos” entre outros.
Ignez deu um depoimento pessoal lembrando que conheceu um Glauber embrionário, com apenas 17 anos, e acompanhou de perto sua evolução até 1964 com “Deus e O Diabo…”. Anos depois, conheceu Sganzerla e retomou a pulsação pela interpretação, lembrando que era uma atriz glauberiana.
O cineasta Joel Pizzini, Casado com Paloma Rocha, por sua vez, lembrou que foi com Ignez, ao vê-la na peça “Ópera de Três Tostões”, que Glauber descobriu Bertolt Brecht. Pizzini destacou principalmente que nos anos 60 havia o exercício da polêmica. Era uma atitude, mas pontos de aproximação na obra dos dois não só no campo das discussões das idéias, como também na ousadia da forma de filmar e na utilização da música. “Não dá pra simplificar dizendo que um cinemanovista e outro e marginal. É muito simplório”, alertou.
O diretor Andrea Tonnacci era o mais preciso na sua fala. Lembrou que fazer cinema era uma intervenção no mundo naquele tempo. Nascia da raiva. “Sinto que não é o que se faz hoje. Eu tinha 20 anos quando conheci Glauber. Para mim e Sganzerla, ele era já um homem formado e vejo os dois lutando por um mundo melhor através do cinema. Era um cinema de resultados e não um cinema de captação, como acontece hoje”.
O depoimento de dois jovens pesquisadores, Luiz Alberto Rocha Filho e Remier, que descobriram Glauber e Sganzerla só nos anos 1980, foi pertinente para ressaltar que naquela época, os dois ainda estavam mitificados em livros canônicos, e o acesso às suas obras não era fácil. Luiz Alberto destacou que hoje a intermediação aos seus trabalhos é mais volumoso, mas ainda assim é preciso ‘desaprender’ algumas ‘verdade’ sedimentadas que precisam ser questionadas.
Para fazer isso, lembrou o curador Cléber Eduardo, só vendo os filmes, para não chegar com idéias pré-concebidas que interferem numa percepção mais pura do trabalho.
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