3º Cine-OP (2008) – noite 2
Glauber e outra figura não menos importante na noite de sábado no Cine-OP
Por Luiz Joaquim | 15.06.2008 (domingo)
OURO PRETO (MG) – Acompanhar o 3º Cine-OP – Mostra de Cinema de Ouro Preto é particularmente agradável, mesmo sem entrar propriamente no mérito da qualidade da programação que, vale ressaltar de imediato, é séria. Agradável porque é talvez o evento cinematográfico do país melhor emoldurado geográficamente. Mais ainda que a Mostra de Tiradentes (MG), que acontece em todo janeiro também organizado pela Universo Produções.
É pertinente falar da cidade de Ouro Preto nesta cobertura porque infalivelmente a atmosfera que cerca as sessões do Festival contagia algumas percepções. As sessões do Cine-OP acontecem em três pontos distintos, sendo o Cine Vila Rica, uma sala de 400 lugares com arquitetura externa e internamente com uma pequena sugestão barroca (talvez a única do país), o principal espaço do evento. Lá, como em Tiradentes, a organização coloca almofadões no pé da tela para o espectador mais desprendido assistir a sessão deitado no chão. E eles são muitos.
O Cine-Teatro no Centro de Arte e Convenções é palco para exibições de mostra de vídeos enquanto o Cine-Praça, uma impressionante estrutura montada ao ar livre na histórica Praça Tiradentes, com direito a aquecedor circundado a platéia de 480 cadeiras para senão aplacar, amenizar o frio dos 10º graus celsius noturno da cidade.
Na segunda noite do Cine-OP, sábado (14), mesmo com o filme tendo já percorrido algumas outras mostras, como a de São Paulo (outubro 2007) e a de Tribeca, nos EUA, olhares voltaram-se para a sessão de “O Diário de Sintra”, de Paula Gaitán, com produção de Erik Rocha. Ambos apresentaram a sessão no Cine Vila Rica. Gaitán pediu a platéia que tivesse “paciência com o filme, pois não é um documentário tradicional”.
Não é uma boa maneira de apresentar o trabalho, quase um pedido de desculpas. “O Diário…” é um resgate bastante pessoal da família Rocha, no caso, Gaitán, viúva de Glauber, da temporada que passou em Portugal. Com trilha sonora impressionista e utilizando uma diversidade de material de arquivos, Gaitán, vai alternando imagens do passado com as do presente focando uma espécie de trilha, deixada pela família naquele país.
Declamando textos em português, espanhol e francês, Gaitán busca, enquadra e monta imagens poéticas, formando um sentido quase abstrato para deixar o espectador tirar daí, livremente, sua própria sensação a respeito do que foi aquele momento para a família Glauber.
De qualquer forma, a maior sensação que fica é a de uma celebração quase religiosa sobre a figura do emblemático cinemanovista, a propósito, homenageado no Cine-OP junto a Rogério Sganzerla. Gaitán, em entrevista, comentou que “O Diário…” “não é um filme sobre Glauber, mas a partir do Glauber”. É um exercício visual interessante, mas suscita nossa curiosidade em ver um outro trabalho da família Rocha que não se alicerçasse a partir do mito.
Logo na seqüência, no mesmo espaço, houve a estréia nacional do média (52 minutos) “Estafeta – Luiz Paulino dos Santos” de André Sampaio, um dos autores do longa “Conceição- Autor bom É Autor Morto” (2007) e montador de “O Velho, O Mar e o Lago”, de Camilo Cavalcante (2000). O grande mérito do realizador é resgatar a figura do cineasta baiano Luiz Piaulino, antes apenas lembrando como uma figura fundamental, e solenemente esquecida pela história, para feitura de “Barravento” (1962), do Glauber.
Na apresentação, André falava do esforço de oito anos correndo atrás das obras dirigidas por Paulino como “Mar Corrente” (1967), “Crueldade Mortal” (1976) e “Insônia – A Prisão de J. Carmo Gomes” (1980). Em “Estafeta…” vemos um hoje Paulino vivendo no sul de Minas Gerais como guia da doutrina do Santo Daime, completamente desgostoso com o cinema, ou melhor com o rumo que a política do cinema tomou a partir dos anos 1980 no Brasil.
O filme posterior deixou 300 pessoas do lado de fora de um Cine Vila Rica abarrotado. Era “Os Desafinados”, de Walter Lima Jr. Com Rodrigo Santoro e Selton Melo no elenco. Não é preciso dizer mais nada para explicar sua popularidade aqui no Cine-OP, como no foi no 18º Cine-Ceará, em abril último.
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