3º CineOP (2008) – noite 4
Anabazys resgata polêmica no CineOP
Por Luiz Joaquim | 17.06.2008 (terça-feira)
OURO PRETO (MG) – Temperatura baixou ainda mais na 4ª noite, segunda-feira, do 3º CineOP, mas o clima político esquentou com Paloma Rocha ao apresentar a sessão de seu longa-metragem “Anabazys”, com Joel Pizzini. Ela se referia ao processo de articulação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – a chamada TV Pública. A partir de um telefonema recebido do Rio de Janeiro, Paloma dizia que algo estranho estava acontecendo com o processo. “Há algo muito sério em movimento. Se não abrirmos os olhos vamos perder terreno mais uma vez através de um golpe”, falou para a platéia do Cine Vila Rica.
Apesar do mistério, já se sabe por aqui em Ouro Preto que uma autoridade vital neste processo pediu demissão por, possivelmente, não agüentar pressões contra os projetos do EBC. Um deles era adquirir os direitos de exibição de toda produção cinematográfica nacional desde os anos1960 para exibição na TV pública. Outro era investir com fomento para a produção independente com objetivo de alimentar a grade do canal. Hoje, as agências de notícias devem confirmar as suspeitas de Ouro Preto.
Quanto a “Anabazys”, a conclusão do filme foi acelerada para estar no último Festival de Veneza (agosto 2007). Lá exibiu junto a projeção restaurada e em digital de “A Idade da Terra”, com o qual Glauber Rocha havia participado na mostra ‘Horizonte’ há 28 anos. Na época, a recepção gerou uma gigantesca polêmica tanto com detratores quanto adeptos ferrenhos.
“Anabazys” documenta exatamente não só essa polêmica como também o processo de concepção e realização de “A Idade da Terra”, através de valioso material de arquivo encontrado pelo casal de diretores no Tempo Glauber ao longo de anos. Montado pelo mesmo Ricardo Miranda, que também editou o filme de 1980, “Anabazys” é um belo documento que também oferece a rica presença do próprio Glauber na tela. A imagem de sua pessoa, sempre forte, ajuda a entender um pouco mais o folclore em torno do homem.
Numa sessão anterior, “A Mulher de Todos” (1969), de Rogério Sganzerla, projetou para uma platéia ansiosa pela oportunidade rara dada pelo CineOP. Feito um ano após “O Bandido da Luz Vermelha”, o filme trazia um teor não menos anárquico, com Helena Ignez encarnando a anti-heroína Ângela Carne e Osso. Uma espécie de versão feminina do Paulo (Paulo José) de “Todas as Mulheres do Mundo” (1967), só que bastante alucinada e mais descompromissada.
Em comum, Ângela Carne e Osso tem a necessidade de “ser de todos”, embora seja casada com o milionário empresário Doktor Plirtz (Jô Soares). Ela ama a todos mas se proclama a ‘número um’ em odiar os homens. Por isso se dá melhor com os ‘boçais’ (para falar uma gíria da época). Na mesma estrutura narrativa de “O Bandido…”, o longa tem uma montagem quebradiça, que dá uma agilidade tão alucinante quanto são seus personagens.
A narração em off, também pontuada por duas vozes, feminina e masculina, vão dando o perfil da heroína tal qual fazia com Paulo Vilaça no filme anterior. Vilaça, a propósito, também está em “A Mulher…” e encena uma das seqüências mais cômicas do nosso cinema. Faz o toureiro gay preocupado em como pagar seu curso de cabeleireiro após ser assaltado por Ângela Carne e Osso. Maravilhoso.
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