É uma observação pessoal, mas não posso deixar de expressar que acredito ser difícil comensurar o benefício que uma sala como o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj, no Recife) operou ao longo de dez anos para a cidade. Mesmo que listássemos todas as centenas de estréias importantes feitas no Recife através daquele espaço, mesmo que enumerássemos todos as mostras programadas ali, mesmo que transcrevêssemos todos os debates, seminários e oficinas ali geradas, ainda não teríamos um quadro fiel do valor deste espaço administrado pela Diretoria de Cultura da Fundaj e coordenado pelo jornalista Kleber Mendonça FIlho junto comigo. Isto pelo simples fato que cultura, e seu desdobramento na formação humana de seus beneficiados, nunca será algo matematicamente registrável.

A própria mostra Dez Anos, que o Cinema agenda de quinta-feira (26 jun) até 6 de julho, é um exemplo do exercício de forte carinho pelo cinema feito pelos dois curadores, servindo como espelho de um trabalho que começou a ser construído em maio de 1998 com a lançamento do filme “Bent”. Em termos técnicos, a sala do Derby também saiu na frente em alguns aspectos. Foi lá que o recifense ouviu a primeira projeção com uma autêntica distribuição de som Dolby (o multiplex UCI/Ribeiro só veio em julho).

Anos depois, em 2005, a sala sofreu uma potente reforma, cuja mudança mais sensível foi a troca das deficitárias cadeiras para, logo depois, em 2006, ser agregado um projetor digital profissional, operando com o sistema Kinocast, da Rain Network. O sistema, interligando a sala com um circuito nacional bastante restrito (hoje são apenas 152 salas no Brasil), deu a possibilidade de lançar títulos em tempo simultâneo com o eixo Rio-São Paulo, além de por o Recife em contato com alguns filmes que, de outra forma que não fosse o digital, não chegariam ao Recife.

Com 21 filmes selecionados a mostra Dez Anos, o quadro da programação é uma síntese do tipo de propostas que a sala sempre trabalhou. Deste títulos, 11 são inéditos no Brasil e/ou no Recife. São eles: “O Escafandro e A Borboleta”; “Estamos Todos Bem Mesmo Sem Você”; “Antes que O Diabo Saiba que Você Está Morto”; “Do Outro Lado”; “Luz Silenciosa”; “Longe Dela”; “A Banda”; Diário dos Mortos”; e os brasileiros “Nome Próprio”, sendo dois pernambucanos: “Pindorama” e “Muro”, curta-metragem de Tião, premiado em Cannes há um mês. Estes três últimos, junto a “Amigos de Risco”, serão exibidos seguidos de debate entre seus realizadores e o público, repetindo uma tradição largamente disseminada pelo Cinema da Fundação ao longo de sua década de operação.

Além dos inéditos, reprises em cópia 35mm vindo da Cinemateca do MAM (Rio de Janeiro) de alguns clássicos absolutos do cinema mundial (“O Encouraçado Potemkin”; “Casablanca”; “Os Vivos e Os Mortos”), e outros recentes, como “Faces”, de John Cassavetes, “Coração Selvagem”, de David Lynch, e “Ondas do Destino”, de Lars Von Trier. Numa cópia nova, o programa também oferece “O Dragão da Maldade Contra O Santo Guerreiro”, o novo olhar que Glauber Rocha deu em 1969, em cores, ao seu matador de cangaceiro, Antônio das Mortes.

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Cinema da Fundação – Dez anos / Programação

QUINTA, 26
16h – Estamos Bem Mesmo Sem Você
18h10 – Casablanca
20h10 – Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto

SEXTA, 27
17h – Os Vivos e os Mortos
18h50 – O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
21h – Do Outro Lado

SÀBADO, 28
16h30 Um Convidado Bem Trapalhão
18h30 Ondas do Destino
21h40 O Escafandro e a Borboleta

DOMINGO, 29
16h Casablanca – 2a. Exibição
18h – O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreira – 2a. Exibição
20h – Luz Silenciosa

SEGUNDA, 30
17h – Faces
19h30 – Nome Próprio, sessão seguida de debate com Murilo Sales

TERÇA, 1º
16h30 Os Vivos e os Mortos – 2a. Exibição
18h20 – SESSÃO DUPLA
Curta-metragem – Eisenstein O Encouraçado Potemkin
20h20 – Première do Curta Metragem – Muro
Sessão seguida de debate com o realizador com Tião

QUARTA, 2
16h – Um Convidado Bem Trapalhão – 2a. Exibição
18h – Estamos Bem Mesmo Sem Você – 2a. Exibição
20h10 – Amigos de Risco – Sessão seguida de debate Daniel Bandeira

QUINTA, 3
18h – Longe Dela
20h20 – Pindoramda: A Verdadeira História dos Sete Anões –
Sessão seguida de debate com Lula Queiroga e Leo Crivelare

SEXTA, 4
16h30 – O Escafandro e a Borboleta – 2a. Exibição
18h40 – Faces – 2a. Exibição
21h10 – Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto – 2a. Exibição

SÁBADO, 5
16h – O Encouraçado Potemkin – 2a. Exibição
17h40 – Do Outro Lado – 2a. Exibição
20h10 – A Banda
22h – Coração Selvagem
0h – Diário dos Mortos

DOMINGO, 6
17h – A Banda – 2a. Exibição
19h – Ondas do Destino – 2a. Exibição