Third, do Portishead
você só ganha o que merece
Por Luiz Joaquim | 02.06.2008 (segunda-feira)
Portishead é um município na Inglaterra, mas desde 1991 que o mundo liga este nome a três talentosas figuras de Bristol, Inglaterra, que fica a 19 quilômetros da cidade que deu o nome a banda formada pela vocalista Beth Gibbons, o multi-instrumentista Geoff Barrow e o guitarrista de jazz Adrian Utley. Por lá, naquela época, o trio, junto ao Massive Attack e a Tricky, deram um nova dimensão sonora e de sentimentos para a gênero eletrônico. Com influência do Hip-Hop, Jazz e Dub, surgiu um ritmo melancólico e sombrio que todos chamavam de “Trip Hop”. 17 anos depois, chega às lojas “Terceiro” (Universal), o número três do Portishead, ausente no mercado com um álbum novo desde 1997.
São 11 anos ausentes preenchidos agora com 11 músicas inéditas. A novidade chega com o mesmo impacto de ‘Dummy” (1994), o primeiro disco que trazia “Glory Box” e “Sour Times”. Isso porque a força de “Terceiro” está no mesmo elemento que fez da banda o que ela é, ou seja, está na capacidade de criar uma atmosfera emotiva pelas distorções eletrônicas, guitarras mais a voz lânguida de Gibbons, que já foi compara como a Billie Holiday da eletrônica. Só que “Terceiro” não é “mais do mesmo”. Não é uma repetição do que foi feito nos anos 1990, mas dá uma sensação já conhecida de que a banda ainda está à frente do seu tempo. “Terceiro”, como os dois anteriores, sugere que o futuro está nestes disco.
Logo na abertura, na faixa “Silence” o conceito do disco é dito, em português na voz de Cláudio Campos: “Esteja alerta para a regra dos três / O que você dá retornará para você / Essa lição, você tem que aprender / Você só ganha o que você merece”. Porque? Difícil dizer, mas sabe-se que, antes, o título provisório da primeira faixa era “Wicca” (nome de uma seita pagã britânica) cuja regra dos três diz que todo bem ou todo mal que você faz irá retornar para você três vezes. Há também uma lenda da região da Eslováquia falando de um trabalhador que recebeu três moedas por seu trabalho, mas só gastou uma e foi feliz assim, dando a segunda para seus pais e a última aos seus filhos, sendo, no futuro gratificado por isso.
Independente da inspiração, “Silence”, assim como “Nylon Smile”, “We Carry On” e “Machine Gun” são as canções cujo ritmo “incomoda”. Entre aspas porque é o incômodo da experimentação, da proposição de combinações sonoras longe do óbvio, que apontam para o tipo de melodia arriscada e interessante que surgiu em Bristol. Como diz o nome, em “Machine Gun” o bpm é acelerado o suficiente para sugerir uma metralhadora, enquanto na letra Gibbons lamenta o que vê quando olha para si.
Antes, em “Deep Water”, a voz de Gibbons esta solitária, acompanhada apenas por um bandolin, naquilo que parece mais uma canção triste feita para a voz de um negro de décadas atrás em New Orleans. O lamento doloroso, entretanto, está mais marcado em “Small”, “Threads” e “Magic Doors”. Nesta última, talvez esteja a melhor representação, neste álbum, do que significa a potência de melancolia contida na inflexão na voz de Gibbons. Aqui, cercada pelo “choro” de portas rangendo, enquanto ela “tenta achar as palavras para descrever o senso absurdo”, ela “não nega em que se transformou”. Gibbons podia estar falando dela, hoje transformada numa musa, ou numa diva, sempre amparada pelos escudeiros do ritmo Barrow e Utley.
Serviço:
Portishead
álbum: “Terceiro”
Universal
R$ 27,90
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